quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Top 2014

2014 em 10 filmes.

Seguindo o padrão da lista do primeiro semestre, ou seja, só entraram filmes que estrearam comercialmente no Brasil em 2014. Como alguns não possuem crítica no blog resolvi deixar comentários sobre todos. Em outros casos, como “Boyhood”, pretendo fazer uma crítica mais detalhada no futuro. Dessa vez resolvi enumerar os filmes por favoritismo, refletindo as obras que considerei as melhores de 2014, que tirando uma bomba cá e lá (Nolan, estou falando de você) certamente foi um ano bacana para o cinema.

10) Avanti Popolo:
Entrincheirado em uma história de perda e dor entre pais e filhos, a estreia em longa-metragem de Michael Wahrmann é um exercício audacioso de cinema político que usa narrações em over, filmagens de Super 8 e metalinguagem cinematográfica para criar imagens assombrosas da não presença de um filho desaparecido. Avanti Popolo é politizado sem soar panfletário, priorizando seus personagens-fantasmas e buscando a comunhão natural dos homens.

9) Quando Eu Era Vivo:
Outro filme assombrado por uma presença invisível, Quando Eu Era Vivo é um dos filmes brasileiros que mais remete ao gênero horror . Aqui existe toda uma escavação arqueológica em busca do passado, fazendo-o vir à tona com uma força agressiva que induz a imagem a um estado constante de paranoia. O filme de Marco Dutra é um artefato interessante do novíssimo cinema brasileiro e uma obra vital para amantes do horror.

8) A Imagem que Falta:
O exorcismo de demônios do diretor Rithy Pahn é a prova do poder cinematográfico de dar voz aos silenciados ou mortos por um regime ditatorial e fascista. Admitindo ser incapaz de achar a imagem que tanto procura, o filme de Pahn não deixa de ser menos impressionante em suas recriações de maquete, na sua conquista social e em seu caráter melancólico.

7) O Homem Duplicado:
O filme de Denis Villeneuve é um suspense psicológico fascinante. Metade simbologia, metade sonho Lynchiano, O Homem Duplicado mantém sua imagem envolta em névoa e em frieza para entrar na psique de seu protagonista . Uma história surreal sobre sexo, desejo e medo.

6) Amantes Eternos:
A geração desinteressada e pessimista condensada na forma de vampiros cools e condenados ao tédio. Jim Jarmusch fez um filme gótico e nostálgico sobre o amor como força redentora. Divido entre a catarse dos vícios e o silêncio opressor que se segue, Amantes Eternos mostra que o veterano diretor ainda carrega em si a jovialidade de suas primeiras obras e fez um filme clássico sobre vampiros, mas que soa fortemente contemporâneo em sua abordagem.

5) Nebraska:
Alexander Payne certamente se beneficiou das rugas de Bruce Dern para criar esse Road Movie empoeirado. Sem dramalhões e com bastante humor, Nebraska é um drama pungente de personagens carismáticos que depositam o peso de uma vida em uma história triste sobre os rumos que a vida toma. Pra ser visto com a família.

4) Sob a Pele:
Apoiado na beleza fria da alienígena demasiadamente humana (Scarlett Johansson), Sob a Pele causou furor excessivo pelas cenas de nudez de sua protagonista, porém nada foi colocado como gratuito. Seus closes expressivos, sua Mise en scène minimalista e sua trilha sonora cheia de chiados, tudo se conecta para criar um filme estranho e sobre estranhos em um mundo desolado e amedrontador que suga Scarlett em uma jornada barulhenta ao caos social e emocional.

3) Eles Voltam:
Mais de seis meses após seu lançamento, Eles Voltam só amplia seus horizontes. Em meio a comentários sociais, Marcello Lordello faz da jornada de sua protagonista Cris uma narrativa sobre amadurecimento e sobre o papel de cada um no mundo. Dificilmente uma obra consegue ser tão sutil em mostrar as nuanças e contradições da sociedade brasileira e nesse sentido, Eles Voltam é essencial não somente para os interessados em “coming of age movies" como também para se discutir questões nacionais contemporâneas.

2) Boyhood:
Se por um lado parece fácil encher de elogios devido aos 12 anos de filmagens que esse filme teve, por outro é difícil ignorar a maneira como Boyhood foi produzido e como sua narrativa reflete tal método. Em seus 12 anos, há um filme de momentos, despretensioso e relaxado sobre amadurecimento. Obviamente, o crescimento do ator principal influenciou nas cenas, mas o caráter naturalista aproxima o filme de um documentário caseiro em 12 partes. Apesar dessas partes estarem pouco preocupadas em compor uma narrativa de começo, meio e fim, cada uma consiste em um pequeno grande curta metragem. Doze obras-primas que chegam perto da verdade maior que destrói a barreira imposta de documentário e ficção em um filme que merece ser revisitado sempre.

1) Vidas ao Vento:
O canto de Cisne do gênio da animação japonesa, Hayao Miyazaki vai permanecer em minha memória cinéfila por anos. Essa ode ao espirito humano e seu poder em realizar sonhos é apenas ameaçado por suas consequências. Miyazaki reflete amargamente as contradições da vida, ao mesmo tempo em que não deixa de perceber uma beleza no cenário de guerra em que o protagonista se encontra. É preciso sabedoria e humanidade para se criar imagens que transitam entre o belo e o grotesco de maneira tão sutil quanto as de Miyazaki. Vidas ao Vento é cinema em estado de sonho, livre e meditativo. Não há erros, Miyazaki é um Sensei, tão hábil na arte de criar imagens que seu ultimo filme ainda consegue surpreender e fazer sonharmos tudo novamente. Essencial.

Links IMDB:














Leia Mais ►

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Homens, Mulheres e Filhos

Most Of Us, Are Sad

Confesso que saí confuso após a sessão de Homens, Mulheres e Filhos. Não havia gostado, e assim continuo, porém  ainda naquela altura não sabia dizer precisamente o motivo de meu incomodo. Algo que espero entender melhor ao fazer essa crítica.

Jason Reitman se mostra seguro e no comando de seu filme sobre relacionamentos nos tempos da Internet. Igualmente confiantes estão seus atores (Adam Sandler, Jennifer Garner, Dean Norris, Ansel Egort), todos limpos, sóbrios e levando demasiadamente a sério seus personagens entediados e neuróticos. Nada de extraordinário em seus dramas: histórias de pais e filhos que buscam sair da monotonia de seus relacionamentos (sejam eles de ordem afetuosa ou interpessoal).

Existe uma vontade em expor essas histórias como maneira de conectá-las, fazendo assim um quadro sobre a solidão moderna. Reitman reforça constantemente seu ponto de vista trágico sobre aqueles personagens ao incluir uma narração robótica de Emma Thompson que exemplifica a dinâmica truncada e fria daqueles fantasmas perdidos. Homens, Mulheres e Filhos é uma espécie de Força sedada. Seus temas são pertinentes, seus personagens carregam dentro de si sentimentos redentores e ânsias por mudanças, porém todas essas potencialidades são dissipadas pela falta de energia da narrativa. A imagem é muita limpa e maquiada, construir um mundo de aparências é uma das propostas da narrativa, porém esse excesso acaba por apagar diversos pontos interessantes da caracterização dos personagens, tornando-os unilaterais e redundantes. Reitman os protege de julgamentos, morais, mas também os impede de ganhar camadas mais humanas. Todos estão aprisionados em uma imagem entorpecente, incapazes de saírem de seus arquétipos narrativos. O interesse é maior em criar uma obra que cite\exemplifique os tipos de solidão do que em criar personagens de carne e osso.


A questão do meu incomodo bate ai. Não sei até que ponto o que apresentei possam ser problemas para outros espectadores, ou se isso acaba por refletir meu cinismo em relação a essa geração, que é no caso, a mesma do filme. Talvez Reitman tenha criado um universo tão próximo que se torna inquietante reconhecer a "imagem entorpecente" como algo familiar. Esse cinema consequentemente se torna preguiço e conformista por não apresentar a jovialidade que seus personagens tanto tentam redescobrir. O filme é bem intencionado, mas lhe falta carisma e audácia em ser mais livre e sujo. Resultando em um cinema que se vende muito mais pelos nomes estampados em seu cartaz do que pela força de suas ideias e imagens.


                  Música do título:  
Leia Mais ►

domingo, 9 de novembro de 2014

Interstellar


As recentes declarações de Tarantino comparando o novo de Christopher Nolan aos filmes de Tarkovsky e Malick me deixaram no mínimo curioso. Não pelo fato de que minhas ultimas experiências com Nolan terem sido frustrantes, mas porque os diretores que Tarantino apontou não filmavam máquinas, coisa que o panteão de Hollywood sabe fazer de melhor. Máquinas ou excessivamente sentimentais, ou desprovidas de qualquer empatia (caso dos personagens de Nolan), mas ainda assim, robôs. Em seus melhores dias, Spielberg fazia no seu excesso de sentimentalismo histórias de carne e osso, sobre o fantástico acontecendo para pessoas ordinárias. Existia uma honestidade bastante peculiar na primeira parte da carreira de Spielberg, filmes que uniam as pessoas por possuírem um elemento extraordinário que fazia com que seus personagens tivessem reviravoltas em suas vidas. Spielberg lançava seus personagens rumo ao desconhecido. Mais tarde esses elementos deram lugar a um terreno seguro e sem as surpresas e o frescor dos primeiros. E essa introdução toda é pra soltar que Interstellar  tenta ter os atributos de um Tarkovski - ser um filme que leve a dimensões além do que está mostrado, ao mesmo tempo em que inicia como uma aventura aos moldes dos primeiros Spielbergs, mas que acaba parecendo mais com a ego-trip louca dos últimos.

Assim como em A Origem, Nolan se joga com bastante amor no tema de seu filme, que nesse caso é a física espacial. Esse carinho parece originar a maioria dos seus personagens, limitando-os na mera função de comentar e expor o que está acontecendo em boa parte do filme. Existe uma pressa em ir além, em sair do núcleo familiar de Cooper (Matthew McConaughey) – em “olhar para o céu novamente” como o personagem comenta. Nolan parece interessado em acelerar, carregando a maior parte dos diálogos com informações que de nada serviram para melhorar minha experiência, e chegar aonde lhe interessa, "ao infinito e além". A história da família ordinária que se depara com algo fantástico perde força frente ao elemento extraordinário. O filme deixa o virtuosismo dos efeitos especiais , junto com os  plots twist, se sobressair perante os personagens.

A obra fica grandiosa demais. Os minutos passam e o filme vai sempre adicionado: Novos dramas, personagens, teorias da física. Falta-lhe tempo para absorver todos esses elementos de maneira que cada um tenha seu devido lugar na narrativa. A sensação que permeia é de um filme carregado de ideias, mas que se perde devido ao mau desenvolvimento e ao excesso da trilha sonora de Hans Zimmer. Tudo é tão previsivelmente manipulado para causar impacto emocional, que se torna enfadonho.

Interstellar se incomoda em ser uma obra “old Spielberg”. Mesmo não tendo todas as qualidades de um Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1977), ele tenta desesperadamente ser um filme demasiadamente humano e sobre a raça-humana. Algo que se conecte e que o espectador seja capaz de se identificar com os personagens. Não que ele seja incapaz de ser para determinado público, mas quando percebo o artifício sendo utilizado de maneira tão histérica, ele perde a força. Personagens passam horas comentando sobre gravidade, espaço, tempo e quando se deparam com algo além de seu conhecimento ou que cause atrito entre eles, soltam um “mas o amor supera as leis da física”. Nolan parece bastante resolvido em sua “mensagem”, ele só não consegue transmiti-la sem soar artificial. Os elementos não se encaixam, há falta de bons personagens para um filme que se propõem a ser sobre seres-humanos.
O “incômodo” em ser um Blockbuster nostálgico e sua consequente tentativa em ser algo mais extraordinário (como os filmes de Tarkovski e Malick) acabam por reforçar a fragilidade de Nolan em contar boas histórias. Curiosamente a longevidade dos “Old Spielberg” é justamente pela falta de preocupação em ser algo único.  Histórias feitas para serem hits de verão, mas cuja humanidade e funcionalidade como cinema foram tão bem arquitetadas que se tornaram referências para várias gerações, coisa que o filme de Nolan, dificilmente, será.  

Leia Mais ►

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Os Garotos Perdidos

Mesmo com o carinho que sinto pelos filmes infanto-juvenis vindos da Hollywood dos anos 80 (Clube dos Cinco, Conta Comigo, Curtindo a Vida Adoidado, dentre muitos outros) a experiência de rever um filme desses não deixa de ser tensa. O desenvolvimento cinéfilo tende a ser cruel com as primeiras incursões do sujeito ao cinema. Com um pouco de sorte, alguns ainda conseguem encontrar toda a excitação e urgência que havia em alguns títulos. Fazendo com que esses sejam ainda mais valorizados pela memória. Felizmente, Os Garotos Perdidos se ampliou em várias maneiras desde sua ultima revisão.

Família se muda para região costeira. Michael (Jason Patric), o filho mais velho, passa a se relacionar com um grupo de garotos marginais, enquanto que Sam (Corey Haim), o filho mais novo, faz amizade com dois meninos geeks que desconfiam que existam diversos vampiros na cidade. Simples em sua premissa, Garotos mostra o choque de universos em seus primeiros momentos e em seguida, ao maravilhoso som de “People are Strange”, evidencia todo o caráter multicultural, surreal e grotesco que habita sua diegese.

Se a história dos vampiros góticos versus nerds representava a epítome da Sessão da Tarde para mim, agora ela é uma narrativa largamente mais interessante no campo estético e político. O entretenimento bem polido ainda está lá, porém sua humanidade transparece pela primeira vez. Joel Schumacher pode até ter perdido a mão em suas ultimas obras, mas aqui ele demonstra um talento nato parar criar um Blockbuster soturno e inteligente, tão relevante em sua mensagem “Different Strokes for Different Folks” nos anos 80 como é agora. Se o Vampirismo é usado como maneira de tornar o filme mais rendável, sua utilização não remete à artificialidade de clichês baratos em outras representações. Em vez disso, se conecta diretamente a um dos estilos visuais e musicais que estava em moda na época, o gótico; afim de caracterizá-los como indivíduos singulares e estranhos na sociedade vigente.

Astros de rock, arruaceiros, crianças sem pais, os Vampiros liderados por David (Kiefer Sutherland) são hedônicos como forma de caminharem por uma ordem que os repudia não por conhecer sua real natureza, mas por representarem algo novo, ofensivo e incompreensível. É uma defesa da subcultura noturna e da individualidade do ser como maneira de luta pela sobrevivência em um habitat que é hostil a diferenças. O ar de tragédia e melancolia é construído por momentos sutis onde sombras expressionistas seduzem o espectador para esse mundo underground e o faz sentir simpatia, e até nostalgia, pela juventude perdida e cheia de raiva. A obra ainda ganhar contornos políticos com o Mini Esquadrão Caça Vampiro promovido pelas crianças do filme, sendo elas defensoras do “jeito americano de ser” e usando-o como escudo em sua caçada aos outsiders. Em menor escala, o filme pode ser lido como um alerta contra o fanatismo e moralismo da sociedade. Os mortos vivos se tornam uma alegoria sagaz para os excluídos da política conservadora e ufanista que Ronald Reagan lançou nos EUA na década de oitenta. Esses comentários fazem com que os vampiros não se tornem efetivamente os antagonistas e a obra afasta tal maniqueísmo redutor e comum a vários filmes hollywoodianos.


Os Garotos Perdidos confere espaço a todas as diferentes tribos que povoam seu universo, necessitando de certo tempo para melhor compreender o cerne do filme. Seu desenvolvimento se dar tanto por momentos cheios de sensibilidade e beleza infantis, como por cenas carregadas de desejos e frustrações adolescentes que seriam bem típicas da histeria bem aplicada de Nicholas Ray. A soma desses elementos provavelmente foi o que garantiu ao filme sua longevidade e jovialidade após mais de 20 anos. Mostrando que seja no moralismo ingênuo das crianças ou na tragédia dos vampiros, temos um pouco de cada.



Leia Mais ►

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Still the Water (Futatsume no mado)

The Water´s Clear and Innocent.

Os tambores rufam, o vento sacode as árvores, as ondas do mar rebatem na areia, um menino encontra um cadáver boiando na praia. Still The Water (Futatsume no Mado) é meditativo, cru, belo e agressivo em proporções igualitárias. Uma obra de conhecimento milenar que se enraíza nos dilemas humanos para fornecer uma experiência que os transcenda para além de suas dimensões.

Lidando com temas tais como o amadurecimento, o aparecimento do amor e a inevitabilidade da morte, Still The Water não estuda tais eventos separados uns dos outros. Em vez disso, os compreende como causas naturais para a própria vida acontecer. O olhar da diretora Naomi Kawase se estende para o continuo movimento do ciclo da vida. Originando um filme que absorve a natureza como parte intrínseca de si, revelando em suas regras e contradições uma ordem espiritual, ancestral e comum a tudo e a todos.

Não existem momentos desperdiçados ou mal aproveitados, Still The Water seria uma obra presunçosa se não tivesse uma direção tão segura e centrada, baseada no respeito e humildade que Kawase sente pelos dramas que aborda. Para isso, ela constrói uma linguagem contemplativa e de caráter sensorial, assemelhando-se bastante a um documentário (estilo não estranho à diretora), que capta perfeitamente o despertar e o fim da vida. Esse ritual é pontuado pelo som do mar e do vento como signos frequentes de uma metafísica que busca alcançar o sublime através dos medos, frustrações e expectativas dos protagonistas.

Still the Water é um raríssimo caso de um filme que se desenvolve fora do que está imageticamente apresentado. A crueza e até aridez com que os personagens se desenvolvem ou até o ritmo contemplativo da narrativa podem afastar alguns, mas é inegável que a obra carrega em si toda a infinidade, beleza e tragédia do que nós rodeia. 


             Música do título:
Leia Mais ►

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Garota Exemplar

De todos os herdeiros cinematográficos que Alfred Hitchcock deixou, David Fincher é meu favorito. A alcunha de “herdeiro” não é à toa, o diretor possui um cuidado meticuloso com a progressão narrativa de seus filmes e sabe muito bem manipular as emoções do espectador à la Hitchcock. Resultando em obras bem polidas, com roteiro bem mastigado e de personagens interessantes e carismáticos. Em suma, trata-se de um dos melhores a serviço de Hollywood. Por isso, minhas expectativas em relação à Garota Exemplar eram altas. Amy (Rosamund Pike) desaparece no seu aniversário de cinco anos de casamento com Nick (Ben Affleck). Não demora muito para o desaparecimento de Amy se tornar manchete de todos os jornais, com Nick sendo o principal suspeito. Um thriller bem ao estilo Fincher, Garota Exemplar mantém boa parte das características que sempre me atraíram no cinema dele, bem como algumas que não me entusiasmaram tanto.

A primeira parte é espetacular, maquiavelicamente arquitetada com cortes rápidos e tensos, para o espectador ser imerso no clima de dúvida e discórdia acerca do desaparecimento da protagonista. Personagens de intenções duvidosas, flashbacks inspirados, bons diálogos e ótimo ritmo. A combinação essencial para a platéia se manter ansiosa e atenta a cada nuance comportamental de Nick. É o inferno matrimonial tratado de maneira rebuscada para que os personagens sejam respeitados como pessoas de falhas e virtudes que podem ser, ou não, capazes de tudo quando acuadas. Fincher entende a importância dos protagonistas para uma narrativa dessas fluir e confere total confiança para Pike e Affleck adicionarem dramaticidade a obra, felizmente eles conseguem. Soma-se a uma ótima trilha sonora encabeçada por Trent Reznor e tudo está em seu lugar, os dramas funcionam e a atmosfera de “Caça as bruxas” é perfeita. Fincher tem a platéia em suas mãos.

Os incômodos começaram na segunda parte, mais redundante e de ações mais maniqueístas. Existe uma mudança clara (evitando grandes spoilers) no ritmo e desenvolvimento do filme, o quê em si não necessariamente configura-se em uma falha. Porém no caso de Garota Exemplar, tive sérios problemas com o tom histérico que o filme passa a ter. O ar de mistério se dissipa e dar lugar a uma brincadeira de mocinhos e vilões que se prolonga bem mais do que o necessário. O filme passa a se concentrar na alegoria do casamento de aparências como uma forma de atacar diretamente o jornalismo sensacionalista e Amy se torna o arquétipo da mulher vingativa unilateral, indo contra sua persona incompleta e sedutora da primeira parte, se assemelhando a uma vilã de novela mexicana.

Existe uma aceitação tão calorosa do segundo ato, indo até o fim do filme, com o lado repulsivo adquirido por seus personagens que essa histeria se torna uma força estética em si. É um desfile de personagens representativos do que há de pior em cada um de nós. Garota Exemplar vai de filme noir para a loucura de um Pink Flamingos (sem teor escatológico), perde seu caráter intimista e ganha dimensões grotescas e sociais que podem funcionar com outros espectadores, porém em minha percepção acabou inutilizando boa parte do suspense construído anteriormente. É visível que já em sua metade não há novas direções que o filme possa seguir, tornando-o bem mais descritivo do que interessante. Talvez ainda seja um filme que exige maturação para melhor ser absorvido, quem sabe esses problemas desapareçam em uma futura revisão.


Porém mesmo com minha decepção a partir da primeira hora, Fincher não deixa de criar cenas sensoriais bonitas que tornam o filme um deleite para os olhos. Com a insanidade matrimonial se revertendo em imagens provocantes e reflexivas ao espectador, especialmente para aquele que possui uma visão ingênua do termo "briga de marido e mulher ninguém mete a colher". A naturalidade e delicadeza transmitida pelos protagonistas os tornam tão criveis que quando o vermelho pulsante do sangue é mostrado, o contraste buscado por Fincher entre realidade e aparências é belamente transmitido. Garota Exemplar pode não figurar entre os meus favoritos, mas a direção competente e os temas pertinentes garantem que ele figure entre os melhores pipocões que Hollywood fez esse ano.

Leia Mais ►

sábado, 27 de setembro de 2014

Miss Violence

Freak Show

A imagem de uma menina sorrindo para a câmera e logo em seguida se jogando de um prédio é certamente algo marcante. O espectador é imediatamente tentado a sentir pena e a querer entender os motivos que levaram a um ato tão violento e radical. O diretor Alexandros Avranas mantém sua câmera a serviço das investigações da platéia, ela se movimenta livremente pelo cenário enquadrando e aprisionando em planos fechadíssimos os culpados e os presentes no suicídio da menina, ou seja, seus familiares.
Miss Violence é um filme bastante seco e violento, tanto na sua narrativa quanto na sua estética. Tonalidades frias e acinzentadas misturam personagens a ambientes claustrofóbicos e hostis. Não tarda muito e o filme mostra o porquê de determinadas escolhas. A família de Angeliki (a menina suicida) se recusa a aceitar que ela possa ter se matado, preferindo continuar a viver o mais normalmente possível. Em meia hora de filme, o patriarca da família (ótima atuação de Themis Panou) revela suas “peculiaridades” em relação à forma como educa seus filhos. A partir dai o filme é preenchido por diversos momentos agressivos e agonizantes que demonstram o inferno familiar em que o restante dos irmãos de Angeliki se encontra.

Um freak show que sabe utilizar o vermelho vivo e pulsante do sangue para contrastar com a desolação e desespero dos filhos. Avranas se lança sobre seus personagens de forma bastante nítida e mantém suas lentes na altura dos filhos menores, revelando uma pureza e beleza em constante ameaça. Porém sua grande obsessão se concentra na figura do pai e no seu uso da violência doméstica. O personagem não oferece insights fascinantes ou monólogos interessantes, mas seu comportamento consegue fornecer respostas em relação ao suicídio da menina. A câmera o intimida, como maneira de exibir suas hipocrisias de maneira mais nítida. Seus close-ups revelam uma figura abominável a quem o espectador acompanha durante boa parte da narrativa.

Porém se Miss Violence possui uma mensagem clara e direta, lhe falta gás para sua narrativa se desenvolver e alcançar dimensões mais interessantes. Acaba por ser uma história relativamente batida (semelhante ao outro filme Grego contemporâneo, Dente Canino) e por vezes, carregadíssima em suas cenas chocantes. Avranas mostra onde os corpos estão enterrados, e quem os enterrou logo no começo, tornando a experiência prejudicada em longo prazo. Não há nada além, é um filme duro e seco do começo ao fim. No momento em que eu pensei que ele iria colocar o foco de atenção em outros lugares, o diretor permanece enfatizando e enfatizando no já comentado e exemplificado.

Já havia dito sobre esses problemas em outros filmes violentos desse ano (The Rover, Heli) e reafirmo que não se tratam de filmes horrorosos. Entretanto apesar do vigor de seus realizadores, eles acabam por caírem no lugar comum de cenas violentas que se tornam muito mais descritivas do que narrativamente importantes. A sensação que fiquei foi de um filme que apelou para empatia da platéia por não ter mais o que comentar.


É admirável que um filme como Miss Violence mire seu olhar em temas tão fortes para o espectador. Suas discursões são pertinentes e bem vindas ao cinema contemporâneo. Ele é objetivo e sem falsas esperanças, porém acaba por cair diversas vezes na trilha do sentimentalismo barato e na mesmice demonstrativa da violência física.

Leia Mais ►

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola

Eric Von Stroheim já dizia “Em Hollywood você é tão bom quanto seu ultimo filme”. Seth MacFarlane gostou tanto do sucesso de Ted que fez uma cópia quase exata se passando no velho oeste. O senso histérico de piadas com teor sexual ou escatológico persiste, a falta de carisma dos personagens também. Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola (sério?) é tão infantilmente constrangedor e sem graça que é restrito apenas aos fãs do humor de seu criador. Esse tipo:

Já que o filme não me caiu como comédia, o quê sobrou? Uma festa chata, organizada por MacFarlane onde a nata de Hollywood (Charlize Theron, Amanda Seyfried, Liam Neeson, Neil Patrick Harris, etc) comparece. Alguns dançam mais do que os outros, porém todos brilham, literalmente, na tela. É visível como essas estrelas estão mais claras e brancas do que o restante da diegese, a imagem está lá para captar exclusivamente suas presenças.

A escassez de cinema é gritante, a obra se cria em meio à gags vindas de comerciais televisivos com humor direto e efêmero. As piadas surgem em ritmo acelerado, sem tempo até para elas mesmas, pois o filme é preocupado em imediatamente jogar mais uma e não em deixá-las terem seus momentos. Isso torna o ritmo bastante prejudicado e amontoado de situações previsíveis e desnecessariamente longas.

É uma festa simplória e esquecível. Não existe particularidade ou roteiro bem desenvolvido em Um Milhão..., é a árvore de natal toda enfeitada, porém sem nenhuma razão para existir além de receber presentes (leia-se, o dinheiro do espectador).


A crítica é pequena, pois a obra é. Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola é o filme anárquico que a trupe do Monty Python realizaria se fossem comediantes ruins. Tão irritante quanto aquela piada dita cem vezes pelo seu tio no Natal.

Leia Mais ►

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Isolados

O gênero Suspense\Terror anda em alta no cinema brasileiro. O Som ao Redor, Quando Eu Era Vivo, Trabalhar Cansa, O Lobo Atrás da Porta, estão não apenas ligados ao gênero, como figuram facilmente dentre os melhores trabalhos nacionais dos últimos tempos. Mais do que utilizarem o suspense como marcador de ritmo, tais filmes abraçam o gênero com bastante carinho cinéfilo e apresentam abordagens estéticas, no mínimo, interessantes. Isolados peca justamente por não possuir esse conforto e conhecimento do gênero, se resumindo a uma cópia insípida dos diversos suspenses genéricos que Hollywood distribui semanalmente nos cinemas.

O excesso de simbolismo dos créditos iniciais já havia me deixado uma primeira má impressão. A partir dai só piora: Uma colagem dos piores clichês do gênero que somados a química horrenda do casal protagonista revela um filme carente de personalidade e inventividade. Priorizando sustos fáceis e abusando dos close-ups, Isolados não visa imergir a plateia em uma atmosfera rica e cheia de camadas, mas no entretenimento barato, e mal executado, de sustos isolados (perdão do trocadilho) em uma narrativa recheada de flashbacks desnecessários, diálogos empobrecedores e diversos furos de roteiro. O filme é frágil e mal arquitetado, determinando meia dúzia de cenas como sendo feitas para “assustar” e tais momentos são tão facilmente identificados que se tornam enfadonhos. Enquanto que o resto das cenas “não assustadoras” se revela um caos de subplots sobre o passado dos protagonistas com nenhum propósito além de servirem como passagens de tempo chatas para a próxima cena de susto. Seria até interessante poder fazer conexões mais complexas entre os subplots, porém o caráter didático e a falta de desenvoltura as colocam no vácuo.

A sensação é que nada acontece durante o filme, não há o medo da imagem ou do extracampo, o espectador permanece em terreno seguro e no aguardo do tradicional plot twist dos últimos cinco minutos. Um produto que tende a causar risos histéricos na plateia, fazendo-os sentir zero empatia pelo casal engomadinho, que é “ameaçado” por assassinos seriais no meio do mato. Em meio a isso, a mulher (Regiane Alves) possui problemas psicológicos e sobra para o namorado (Bruno Gagliasso) defendê-la na casa no meio da floresta, sem eletricidade, sem ajuda, etc. O roteiro enfatiza demais seus atores, provavelmente para atrair público, o problema é que a má construção dos mesmos impede qualquer objetivo fílmico ser alcançado.


A saturação de exemplos quase idênticos a Isolados o faz cair no esquecimento quase que imediato após os créditos finais. O gênero pode até ter mais exemplos similares ao filme, porém obras como as nacionais citadas no começo do texto mostram que o suspense ainda tem diversos terrenos a serem explorados.

Leia Mais ►

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

The Thing

A barriga de um homem arranca os braços de outro fora. Há bastante medo físico em The Thing. Carpenter horroriza o espectador em sua reflexão de sangue, tecidos e ossos distorcidos do ser-humano. O grau de monstruosidade que o diretor injeta em seu filme se assemelha as formas deformadas e amedrontadas das pinturas de Goya, uma verdadeira visão do inferno. A imagem é tão gráfica, vibrante, tensa e provocadora ao retratar os corpos de seus personagens que não é de se surpreender sua fria recepção em 1982.
O minimalismo da música tema instaura expectativa e suspense, que surge na figura de um cão sendo perseguido por um helicóptero. Mais tarde a platéia descobre que se trata de um ser capaz de se transmutar em qualquer organismo, gerando pânico e desconfiança entre os personagens. Carpenter filma na altura do cão, conferindo-lhe poder e espaço na tela. Sua transformação é uma grande proeza para o gênero, não só pelos efeitos especiais orgânicos e espetaculares, como também pela prova do grande talento de seu diretor em assustar plateias e em corresponder suas expectativas com imagens amedrontadoras e inusitadas.

Porém seria um erro ler esse filme como sucessão uma de imagens vulgares de violência gráfica. Em vez disso, Carpenter prioriza a construção de uma atmosfera fria e até onírica da Antártica, para gradativamente sucumbi-la em um clima de paranoia que traz consigo a fotogenia impressionantemente surreal do monstro homônimo. A narrativa não se apressa em exibi-lo como um fantoche genérico igual a tantos outros do gênero, mas como uma força única e implacável que também se revela no extracampo sonoro de sons ásperos e estridentes. Sua origem não é apresentada, o espectador e os personagens entendem que o monstro possui dimensões e aparências imensuráveis. O próprio The Thing é carregado de tais dimensões, o cosmos mundial se disfarça em treze personagens acuados pela “coisa” metamórfica. Alegorias com a histeria do surgimento da AIDS e suas primeiras “soluções” de extrema direita (isolar os infectados) são bastante cabíveis ao filme. Pois a força de seu subtexto consiste no choque entre diferentes mentes, etnias e classes ameaçadas pela violência do desconhecido.


E que maneira seria mais apropriada de se terminar do que com a destruição física e mental dos envolvidos? A orquestração da violência diminui seu ritmo, porém ela permanece. A ambiguidade de seu final é discutível, porém sua força em impactar e fragilizar o espectador, não. 


      Morricone <33333333:

Leia Mais ►

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Império dos Sonhos

In Pitch Dark, i go walking in

O apelo do gênero terror\suspense está na invulnerabilidade que a audiência possui perante as forças sobrenaturais que perseguem os personagens desamparados por algumas horas. A plateia normalmente indaga sobre como se comportariam perante tais situações de desespero e aflição, o gênero entretém, pois fornece essa “insegurança-segura”. David Lynch é um dos melhores que sabe quebrar esse contrato entre plateia e filme, fazendo com que seus espectadores sofram na pele dos mocinhos noir e curiosos de Veludo Azul, Twin Peaks, Cidade dos Sonhos e Estrada Perdida. Tais personagens são perseguidos e confrontados por forças maléficas que assumem diversas formas (espírito, bruxa, psicopata), que não só cumprem suas funções de antagonistas, como também se tornam personas tão impactantes e profundas que o espectador se sente amedrontado mesmo após o término do filme. As criaturas de Lynch são possuidoras de um ódio além da compreensão e suas motivações se relacionam com o lado mais obscuro do homem, mas elas são apresentadas com uma roupagem de carne e osso, fazendo-as ainda mais reais e assustadoras. Agora imagine se uma dessas forças possuísse Lynch e dirigisse um filme, Império dos Sonhos seria essa obra

Primeiro filme do diretor rodado inteiramente em digital, Império dos Sonhos é um longo pesadelo surrealista de estética câmera na mão, feito assim, para quebrar toda e qualquer barreira existente entre ficção\documentário e real\irreal. Ao jogar o espectador no meio do caos povoado por close-ups distorcidos, coelhos falantes, ambientação granulada escurecida, David Lynch reinventa seu cinema. Sua metalinguagem se concentra na fragilidade (celuloide) e podridão (Hollywood) da sétima arte, apontando um caminho incerto e escuro para seu cinema em meio a dilemas estéticos (não é a toa que o diretor não dirigiu nenhum filme desde então). Em nenhum outro momento Lynch deixou seu cinema tão aberto e perigoso como em Império dos Sonhos. É auto referencial, inquieto, esquizofrênico e desesperado em sua procura por um novo cinema. Essa obsessão acabou resultando no melhor pesadelo de Lynch, um filme genuinamente angustiante de se assistir.

Em sua maior parte, Império dos Sonhos é ambientado em Hollywood, algumas cutucadas nos talk shows freaks e na cultura de celebridade e já sentimos um certo desprezo pela cidade dos anjos. Lynch demonstra seu inconformismo com o cinema hollywoodiano, que alguns podem até dizer que o diretor faz parte, porém seu olhar crítico acaba por se direcionar para outros lugares ainda mais distópicos. O diretor já havia abordado sua paranoia industrial e paternal em Eraserhead, mas nada perto do pesadelo humano de Império dos Sonhos. O monstro-filme ataca diretamente o espectador, não há sossego, a câmera se comporta como uma arma apontada para a  cabeça da plateia, a tensão permanece por mais de uma hora ininterrupta e diversos disparos são feitos, para logo em seguida a arma ser recarregada e recolocada no mesmo local. Seus sustos não são fáceis e repetidos, Lynch prioriza os cantos escuros e consegue deixar sua plateia paranoica e aflita, amedrontando-as com imagens bizarras que só aumentam o grau de tensão para a sequência seguinte (espere até ver o final). Especialmente, o terror surge da quebra da quarta barreira, os momentos são tão inesperados que surgiram diversos efeitos de repulsa por parte desse fã do gênero. O trabalho de som impecável contribui para a criação de uma atmosfera natural e orgânica, com um barulho sendo meticulosamente planejado para ressoar diversos ecos na cabeça do espectador. Fazendo de seus chiados um tique-taque constante de uma bomba que vai inevitavelmente explodir. Talvez nunca houve imagem tão violenta e agressiva como nesse filme, a vulnerabilidade da plateia é constantemente ressaltada ao longo de seus 180 minutos.
A precariedade da imagem absorve o espectador, aprisiona-o em close-ups e em planos fechadíssimos que buscam captar nossos medos do desconhecido e do escuro. Império dos Sonhos é a psique aberta de uma das criaturas violentas de Lynch, o diretor não está possuído, como eu apontei para melhor exemplificar, mas Nikki (Laura Dern) está. Ela, atriz de meia idade que aceita protagonizar um filme, descobre que o projeto já havia sido iniciado por outra equipe, porém foi tragicamente interrompido pela morte misteriosa do casal de protagonistas. Enquanto começa a adentrar em sua personagem, a realidade de Nikki começa a se misturar com a narrativa e com a vida da falecida atriz. É uma bagunça de múltiplos núcleos narrativos, um choque entre diferentes realidades, um drama sobre os transtornos de uma mulher (cinema) a beira da loucura. David Lynch até reencontra a nostalgia de seus antigos sonhos ao final do filme, mas não antes de passar pelo surreal painel de horrores que habita seu universo, o de sua protagonista, e o do espectador. Apesar de não ser uma experiência fácil (faço menor ideia de como vou dormir hoje), Império dos Sonhos é possivelmente o maior pesadelo que a sétima arte me ofereceu, uma reflexão absolutamente genial de seu artista sobre o cinema e aqueles que o assistem.


                 Música do título:
Leia Mais ►