quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Poeira na estrada - uma memória de Paris,Texas

Link da crítica: http://bit.ly/1lyAAYz












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Paris, Texas

I knew these people

A beleza desoladora do deserto é pontuada pelo minimalismo da slide guitar melancólica de Ry Cooder e sob o sol forte, um homem surge no meio da natureza intocada. Cinema é imagem e som. Wim Wenders é primal em sua introdução e a câmera sobrevoa como uma ave de rapina a perseguir o homem até entender o motivo pelo qual ele se encontra desnorteado no deserto.

É complicado comentar sobre Paris, Texas sem citar diversas referências que habitam meu universo, assim como aquelas que povoam o de Wenders. O homem do deserto (Harry Dean Stanton) é encontrado por seu irmão (Dean Stockwell) após quatro anos e tenta se readaptar a sociedade, ao mesmo tempo em que tenta reconquistar o amor de Hunter, seu filho pequeno. O filme é a epítome de todos os fetiches e preferências estéticas do cinema de Wim Wenders: O estrangeiro, o road movie, a cultura americana e o rock n roll. Paris, Texas é um dos últimos grandes westerns, que mesmo não sendo propriamente um, ele herda de John Ford e Anthony Mann a dimensão do natural perante o homem e o tratamento fotográfico impecável típico desses realizadores. Possuindo tomadas abertas belíssimas, fazendo as paisagens ganharem presença e tempo como parte essencial da narrativa, tornando-as um deleite para os olhos. Porém não há beleza barata, irreflexiva ou gratuita, Wenders reconhece na grandiosidade do western a capacidade em produzir imagens paisagísticas que constroem seus personagens de uma maneira que diálogo nenhum conseguiria.

Ao mesmo tempo em que é suntuoso em suas imagens externas, Paris, Texas é um drama intimista influenciado pelo sublime do ordinário que marca o cinema de Ozu, porém com conflitos e anseios pós-modernos acerca da fuga e da monotonia da vida suburbana. A excelência dos planos fechados e internos está na expressividade do time competente de atores principais, especialmente Stanton. Seu Travis surge sem memória e sem rumo, mas haja carga emocional por detrás de seu rosto, é uma paisagem por si, novamente remetendo a Ford, que uma vez comentou que não há nada mais interessante do que o rosto humano para se filmar. Wim Wenders encontra em Travis a tristeza da perda que é comum a todos, também há um coração pulsante que mesmo por detrás de tanto mistério existe uma sede de viver e um desespero por consertar tudo aquilo que foi perdido ao longo da estrada.

Paris, Texas não é imediatista, é ritmado por melodias e por questões não tão obvias, Wenders cria sua narrativa em meio à subjetividade do violão de Ry Cooder e da fotografia vibrante de Robby Muller. É uma história com um ritmo bastante próprio, priorizando a colagem de momentos simples que separados podem carecer de impacto emocional, mas que suas potencialidades são elevadas no terço final, com um dos monólogos mais emocionantes que o cinema proporcionou ao meu intelecto. É comovente e simples sem as histerias do cinema hollywoodiano, Paris, Texas ressoa na minha cabeça já faz muito tempo, especialmente após descobrir que era o filme favorito de Kurt Cobain. Sem esconder minha paixão pela música do falecido músico, o fato dele ter se identificado com o filme simplesmente conectou todos os pontos que faltavam para mim. Paris, Texas se fechou como um filme sobre os impactos de uma relação familiar destruída e a eterna busca de nós mesmos em meio a tantos ressentimentos. Cobain é o Hunter, aquele que ficou entre os pais, a mercê da criação dos tios e que permaneceu confuso sobre o que realmente aconteceu em sua família.

Sendo menos subjetivo, é bem seguro dizer que o filme antecipa bastante à temática de muitos cânones dos anos 90. O já citado Nirvana, a desolação de não pertencer a lugar algum de A Dupla Vida de Véronique, as preocupações anti establishment da geração Slacker, e o conflito de pais e filhos da geração X. Wenders continuou a explorar diversos desses temas em obras futuras, mas nunca soube mesclar tão bem suas influências e voz em um produto tão universal e eterno como Paris, Texas.


Link para a seção "Memórias" do filme: http://bit.ly/1vT5nje

        Trilha sonora completa:
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quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Amantes Eternos

The city sun sets ver me

Mergulhados em diversos vícios e presos em um limbo terrestre, os personagens de Jim Jarmusch são estrangeiros ao que os rodeia, seus vampiros não são diferentes. Jarmusch os retrata como condenados ao tédio melancólico da eternidade, presos em um habitat medonho. Com boa trilha sonora, bons atores e ritmo alucinógeno, Amantes Eternos se tornou meu filme favorito do diretor.

Adam (Tom Hiddleston) é um vampiro depressivo, passando seu tempo recluso, compondo música e culpando os humanos (Zumbis, como são chamados pelos vampiros) por boa parte de seus problemas. Ele se reúne com sua companheira Eva (Tilda Swinton) de tempos em tempos, essa estabilidade pode ser ameaçada pela presença indesejada de Ava (Mia Wasikowska), irmã de Eva que possui diversas desavenças com o casal.

Passando-se longe dos cartões postais dos Estados Unidos, em uma Detroit noturna e gótica, Amantes Eternos é um filme que preenche muito bem seus tempos mortos, sendo quase sempre em ambientes fechados. Onde o tédio é pontuado por comentários melancólicos sobre o cansaço de uma vida secular. Sabiamente marcado por guitarras distorcidas, o filme transmite a bagunça espiritual em que o protagonista se encontra. Fazendo contraponto com o estilo de música oriental que marca a presença de Eva, evidenciando o caráter de êxtase em que a personagem se encontra. Jarmusch encontra beleza no estado de seus personagens, é um romântico acerca do papel da arte para se atingir o sublime. 

A contemplação do casal é bruscamente interrompida pela chegada da Ava. Mia Wasikowska não da sorte comigo, a histeria de sua personagem faz sentindo, mas é tão destoante e com poucos fins, que o personagem acaba sendo uma adição pouco expressiva. Seu papel narrativo é facilmente compreendido pelo espectador como uma vampira absorvida por vícios humanos, e só. Ao meu ver, não há grandes mistérios em torno de sua persona, sua inclusão pode ser vista como um ato de provocação aos valores defendidos pelo casal de protagonistas, ou até como uma maneira simplista que Jarmusch encontra de fazer o roteiro caminhar aceleradamente.

Conectados pelo ritual de beber sangue, esses vampiros tratam-se como excêntricos, as margens da sociedade, tendo a observado por centenas de décadas, se sentem superiores por não “fazerem guerras por petróleo\ água” e por terem deixado hábitos medievais de atacar os “Zumbis” para se alimentarem. Jarmusch cria seus personagens com um cinismo feroz, fazendo da história deles um conto sobre a degradação do mundo e como se prender a uma pessoa pode mantê-lo próximo aos seus ideais. A sacada do filme consiste em olhar para seus protagonistas com a mesma desconfiança em que eles olham para os zumbis. Ele é interessado no comportamento de seres que passaram centenas de anos perambulando por ai, e como esses podem nós dizer sobre o estado atual das coisas, tanto no ramo social quanto no existencial. O diretor também analisa a presença do passado no presente, o (já comentado) papel da arte como vicio a ser mantido para continuarmos vivos, e se seria possível que tais seres apresentem alguma melhoria comportamental após tantos anos de aprendizado (fazendo paralelo com o homem) 

Amantes Eternos é uma como uma doce canção de piano antes do bar fechar, o ultimo drink. É um filme guiado por sensações, encontrando seu público naqueles que participam do mundo através de suas janelas e que encontram conforto no frio da madrugada. Superou todas minhas expectativas, achei uma obra bem acabada, contemporânea e bastante divertida. Jim Jarmusch apresenta uma boa visão acerca dos condenados, que é fincada com os pés no passado, mas soando gritantemente moderna.


                Música do título:

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segunda-feira, 18 de agosto de 2014

A Visitante Francesa


Poderia está ocorrendo na sua cidade e no seu quintal. E ainda é bom o suficiente para ser exibido em um notebook ou em no visor de uma pequena filmadora. A Visitante Francesa é tão esteticamente simplista e entregue ao espectador que é como Sang-soo Hong despisse o filme de todo o processo de pós-produção, tornando-o uma espécie de documentário caseiro pessoal. É um chamado para o cinema, é expandi-lo para novas audiências, acostumadas com o vídeo, ao mesmo tempo em que é extremamente atrativo para cinéfilos e jovens cineastas.

Aspirante à cineasta escreve um roteiro com três histórias envolvendo uma turista francesa (Isabelle Huppert em tripla atuação) de passagem por uma nebulosa praia na Coreia do Sul. Em todas as narrativas, existem rostos e figuras em comum (o cineasta, o guardas costas, a vizinha, etc).

Cheia de zooms bruscos, cenários recorrentes, bastante comida e personagens cativantes, essa comédia é uma experiência e tanto. A Visitante Francesa lida com temáticas ordinárias e é propositalmente lapidado para parecer que não foi, e funciona! A câmera desengonçada e, aparentemente, sem rumo especifico logo se torna o olho de um espectador voyeur. O estranhamento da direção não é só facilmente absorvido, como ele se torna vital para que esse “documentário” pareça crível.

Somos fãs, munidos de uma handycam e perseguindo nossos ídolos e símbolos. E ao “aprisionarmos” Huppert em nossas lentes, um excitante e fresco cinema é criado. É sem preconceitos de olhares, entre a ficção e o documentário, é livre, acessível a diversas interpretações. A narrativa da Isabelle cineasta\apaixonada\divorciada em busca de um final feliz é a metalinguagem perfeita para o cinema se expressar e se encontrar.
Somado de bons coadjuvantes e de vários planos-sequência, A Visitante Francesa pode parecer sem um subtexto narrativo, mas suas repetições de temas acabam por fazer sentindo no contexto geral das três histórias, bem como o papel da  personagem-roteirista. É a busca pela paz espiritual, e como o cinema pode ajudar nisso, e a celebração pelos momentos simples da vida. E é impressionante como uma obra com cara de primeiro filme esconda uma grande maturidade cinematográfica. Provando que juventude nada tem haver com idade, Sang-soo Hong é um jovem de 53 anos com muito a se dizer.

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quinta-feira, 14 de agosto de 2014

The Rover- A Caçada

“Tema o homem com nada a perder” é o que diz a frase no cartaz de The Rover, o homem em questão é Eric (Guy Pearce), porém essa frase evoca além do protagonista de The Rover. Ela é sobre o tipo de homem que a falta de civilização irá formar quando o colapso social acontecer. Em The Rover, o colapso já aconteceu e o homem se tornou, abertamente, o lobo do próprio homem, como já havia sido apontado por Thomas Hobbes. A citação do filósofo é vital, não só para a compreensão dos personagens do filme, mas também para podermos encontrar razões para o tal colapso ter ocorrido.

Espécie de neo Mad Max, The Rover se passa na Austrália, em um futuro não muito distante onde a sociedade sucumbiu a quase total anarquia. No meio do deserto, uma quadrilha de ladrões rouba o carro de Eric, que parte furiosamente a procura do veículo quando encontra Rey (Robert Pattinson), irmão de um dos assaltantes, e principal meio de Guy recuperar seu carro. Juntos, eles iniciam uma caçada pelo Outback australiano. O choque de personalidades é recorrente, pois Eric é de caráter violento e de pavio curto, enquanto que Rey é deficiente mental e de caráter mais passivo

Vestido de Western, The Rover analisa o valor do ser humano no meio corrompido que o próprio construiu. Não há buscas por redenção, nem mensagens religiosas do fim do mundo. O deserto é composto por personagens violentos, dispostos a tudo para conseguirem lucrar ou terem seus bens materiais recuperados. Esse lado mercadológico é enfatizado, excessivamente, na obra. Deixando diversas evidencias que o “fim” da civilização se deu por conta do capitalismo desenfreado. A obra é desumana e impiedosa, como o capitalismo. Sua crítica é pertinente aos dias atuais e o filme atinge satisfatoriamente sua função de  se entrincheirar no futuro para poder explicitar e criticar aspectos do presente.

 A aridez do deserto se encontra em perfeita sintonia com os personagens de cara feia e David Michôd sabe muito bem se utilizar das paisagens para expressar o abismo em que seus protagonistas se encontram. Também sabe priorizar close-ups para interiorizá-los e fazer vir à tona toda a melancolia que a obra carrega. Lembrando bastante a obra do americano Sam Peckinpah, porém esse explorava o apocalipse da sociedade americana, Michôd expande esse conceito para o colapso da civilização como um todo e ainda projeta uma pequena, pequenininha, fração de esperança.
O lado negativo é que a narrativa não engrena além do esperado, por mim, desse tipo de filme. Sendo datado após a primeira meia-hora. Mesmo com um final que fornece uma nova luz sobre a narrativa, The Rover acaba por carecer de originalidade. Sendo bastante preso ao seu final, demorando muito tempo em adicionar algo relativamente simples, porém significativo. Essa falta de inventividade é compensada pela boa química dos protagonistas e pela excelente atuação de Robert Pattinson, seu melhor momento no cinema até agora. Sua carreira poderia ficar restrita ao sucesso da saga Crepúsculo e ao dinheiro fácil de diversos papeis medíocres que Hollywood poderia ter oferecido. Talvez com outro ator, Rey seria um objeto feito para provocar sentimentalismo barato, porém Pattinson cria um personagem cheio de nuances e com um desenvolvimento, no mínimo, interessante. Similar a um processo de “fim da inocência”, o protagonista é emotivo e acuado em medidas certas. 

Visto na sala de luxo do Shopping Recife, um local irônico de exibição para um filme que critica tão duramente o capitalismo, a obra fica na média. Funciona como western e tem bons atores, só não fez coisas que outros já não fizeram. Saldo positivo, pois instiguei de assistir a obra anterior do diretor, o aclamadíssimo, Reino Animal

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terça-feira, 12 de agosto de 2014

O Homem Duplicado


Esperei e esperei, mas esse filme acabou nem sendo lançado comercialmente em Recife. O jeito foi correr atrás dos torrents, uma pena, esse filme merece ser visto na tela grande. Lançado no mesmo ano que o ótimo Os Suspeitos, O Homem Duplicado é outra prova do talento do canadense Denis Villeneuve.

Ainda trabalhando sob a roupagem do gênero suspense, Villeneuve cria uma narrativa distorcida, sufocante e carregada de bons simbolismos. Adam (Jake Gyllenhall) é um professor de história entediado que divide seu tempo fazendo sexo monótono com sua namorada e se dedicando a vida acadêmica. Após assistir a um filme, Adam percebe que é fisicamente idêntico a um dos atores, passando a ficar obcecado em encontra-lo.

Adaptação de uma obra de José Saramago, O Homem Duplicado é o mash-up perfeito entre Cidade dos Sonhos e Sob a Pele ( http://blowupnow.blogspot.com.br/2014/05/sob-pele.html ). Ao filme de Lynch ele se assemelha por possuir passagens oníricas, e pelas obsessões sexuais. Enquanto que no filme de Glazer, existe a mesma estranheza com o qual o indivíduo olha para si. Porém, são apenas pontos em comum, O Homem Duplicado tem bastante força para ser merecedor de seus próprios méritos. Uma intensa dissecação do homem e de suas repreensões, e como sua humanidade está sendo constantemente robotizada pela sociedade. O filme confunde em seus tons amarelados e cria um quebra-cabeça intrigante, conseguindo, ainda, desenvolver o emocional de seus personagens de maneira exemplar.

 As angustias de Adam são, melhor, materializadas pelas personagens femininas. Aqui, o filme brilha. Se Adam carece de humanidade ao fazer sexo, Anthony (seu duplo) não vê a hora de fugir da paternidade e de seu matrimonio. O Homem Duplicado tem seus melhores momentos no relacionamento amoroso infernal que Anthony possui com sua cônjuge. A obra é corajosa o bastante para sair do confronto inicial (Adam e Anthony) e desenvolver seus protagonistas através de suas parceiras. Fazendo com que o filme tenha o ritmo de um sonho (ou pesadelo) carregado de sexualidade reprimida.

Esse pesadelo ainda possui um “que” de grotesco. Esse flerte se inicia na sequência inicial e pontua toda a narrativa. Não se trata de algo berrante, mas sutil, imergindo o filme em um estado de paranoia constante sobre o que nos aguarda no próximo plano. O terror é trabalhado de forma que seja sempre associado com a psique do protagonista. Existem poucos fatores externos, o filme é meticuloso e obsessivo em exprimir o interior de seu protagonista. Por isso sua materialidade é distorcida e seus sons, estridentes. E é dai que vem o suspense, do confronto entre o material e imaterial, das dimensões do real e do imaginário que rodeiam o protagonista, e do confronto com seu “sósia”. 


As peças do quebra-cabeça vão se tornando mais claras quando o filme começa a alternar mais rapidamente entre Adam e Anthony. Mesmo sem concretizar que eles são a mesma pessoa, o filme é eficaz em mesclar ambos no fluxo de consciência que é o trecho final, fazendo com que o anseio por conclusões seja ainda maior. De certa forma, o filme entrega as respostas, porém ele seria falho se as entregasse de formas não imagéticas. Então, existe o fechamento do quebra-cabeça, ele só foi diferente para cada um, pois as peças encontradas variam para cada espectador, e encontra-las foi uma experiência extremamente recompensadora.

 Reafirmo a importância que a sala de cinema teria em uma narrativa dessas. Mesmo estando na atmosfera do filme, não parava de imaginar como seria infinitamente melhor está imerso na sala escura com a projeção em tela grande. Do contraste da luz da tela com a escuridão da sala, O Homem Duplicado seria melhor visto como é: Uma obra que retira nossos medos da escuridão e as projeta sob o foco da luz.

Link IMDB: http://www.imdb.com/title/tt2316411/

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sábado, 9 de agosto de 2014

Guardiões da Galáxia


Quando Hollywood é esquizofrênica e sofre de crise de identidade, você sabe o tipo de filme que vai resultar. Guardiões da Galáxia tenta, até demais, fugir de si mesmo e ser algo que não é. De repente, parece que os estúdios da Marvel na pré-produção acordaram e falaram “Galera, não da mais pra repetir a fórmula, vamos mudar essa parada”, porém colocar uma trilha sonora de rock farofa dos anos 80 e um visual old school não representa que o filme irá se distanciar das outras obras do estúdio.

Não existe nenhuma razão para adicionar elementos tão destoantes de outras obras do estúdio, se em seu íntimo Guardiões da Galáxia é um Blockbuster completamente sintomático com o presente. E sendo tão comum a tantas outras adaptações da Marvel, ele possuí: Roteiro meia boca, excesso de CGI e falta de carisma. Essa carência de personalidade pode ser facilmente discordada, mas assistir Star Wars é o bastante para perceber as semelhanças entre seus protagonistas e os de Guardiões da Galáxia. Peter é uma versão mais chorona de Han Solo, Groot é um Chewbacca menos peludo. E Gamora é a Princesa Leia que resiste ao charme do Han Solo até o final do segundo terço do filme. Nada de novo.

De resto, temos uma história atolada de clichês, com algumas cenas carregadas de fluxo de informação para o espectador captar alguma coisa do que se passa na tela grande. E, óbvio, explosões à beça para os amantes da pirotecnia artificial da computação gráfica. Dezenas de mortes, sendo nenhuma delas significantes ou de peso narrativo, ocorrendo para o filme segurar a atenção do espectador. Piadas constrangedoras, com exceção de poucas, aparecem em pontos cruciais na tentativa de desacelerar o ritmo alucinante, mas naquela altura a narrativa já havia se mostrado desinteressante para mim.

É basicamente isso, deve agradar a quem não vive sem uma adaptação da Marvel. Até os nostálgicos por filmes de aventura dos anos 80 podem ter uma opinião diferente da minha. No final, achei chatinho, com uma ou outra imagem bonita, mas que carece de uma falta de personalidade tremenda e que busca em referências saudosistas, como filmes e músicas, uma maneira (falha) de se destacar. Lembrei-me da frase de um amigo durante o filme inteiro, “Um relógio antigo é um objeto charmoso, um relógio novo tentando ser um antigo é algo brega”. 

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quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Memória da Vida (YI YI)

As Coisas Simples da Vida (Yi Yi)

Possivelmente, minha descoberta do ano. As Coisas Simples da Vida é o ultimo filme de Edward Yang (o diretor veio a falecer em 2007), uma ode a vida e a seu continuo movimento.

Yang fez um filme, quase, tão grande quanto a própria vida. Um ciclo continuo de dúvidas, romances, remorsos e rostos. Se não podemos pintar nosso próprio quadro do jeito que gostaríamos, podemos sonhar e nós lembrar, a nossa maneira, daqueles que cruzam nossos caminhos.

Acompanhamos a rotina de uma família e seus dilemas na Taiwan moderna. O tratamento honesto e simples das diversas faces do amor é acompanhado pelo peso esmagador que a metrópole exerce sobre  os personagens. Talvez esse seja o filme que melhor aborda o cotidiano e o cansaço da vida na cidade. A melancolia é presente, mas é acompanhada por uma beleza tão inocente e sutil que é difícil não se conectar ao fascinante mosaico de Yang, cada quadro do filme deveria ser emoldurado e pregado na parede.








Link IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0244316/


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segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Jodorowsky´s Dune

Jodorowsky´s Dune

Bem, acho que é pertinente começar dizendo que não gosto dos filmes de Jodorowsky. El Topo e Montanha Sagrada possuem simbolismos baratos e excessivamente carregados, acabam-se resumindo a: Referências e mais referências a eventos históricos, culturais, orientais, religiões esotéricas, catolicismo e aos cineastas favoritos do diretor. No final das contas, achei que ambos os filmes carecem de uma direção firme e pensada, e de uma edição mais bem trabalhada. Porém, a eloquência do diretor ao falar de Duna, seu projeto que nunca foi filmado, me levou a assistir o documentário sobre a produção do filme.

Jodorowsky´s Dune reúne o diretor e seus colaboradores (“Guerreiros espirituais” como o realizador os chama), mais críticos e fãs para comentarem sobre a produção do que supostamente seria “O filme mais importante da história do cinema”, palavras do Jodorowsky. O ímpeto com o qual o realizador fala de seu projeto, quase 40 anos após sua origem, é contagiante. É admirável que o diretor, que na época já havia passado da casa dos 40, consiga manter a jovialidade de um artista de vinte e poucos anos. “Mudar as jovens mentes de todo o mundo” ele refere-se aos seus objetivos, demonstrando uma Egotrip que só os anos 70 proporcionaram.

Porém, se a maioria das loucuras cinematográficas concentrava-se no diretor como única força criativa, Jodorowsky enfatiza a importância do coletivo para seu filme. E que coletivo! H.R Giger, Pink Floyd, Salvador Dali, Mick Jagger, Dan O´Bannon, Orson Welles, dentre tantos outros. O documentário vislumbra diversos storyboards e artes conceituais do filme, assim como entrevista seus responsáveis, traçando o painel sobre como o filme seria.

A força do documentário está justamente ai, porém ele consegue ir além de seu didatismo. Jodorowsky´s Dune é sobre o processo criativo da arte cinematográfica, como também sobre as dificuldades em realizá-la. Filmes como esse acabam tendo visões românticas de uma arte “sagrada”, mas é algo pertinente a se debater na era do digital e da globalização: Até que ponto a arte tem importância na mudança do Status Quo?

Diante do cancelamento de Duna, Hollywood usou extensivamente o material de pré-produção para a criação de vários filmes. Sim, é frustrante que a visão de Jodorowsky nunca tenha visto a luz do dia, e que projetos carregados de dedicação e carinho possam ser cancelados por pessoas que pouco, ou quase nada, entendam de cinema. Porém, no fim, permanece o sentimento que o fator humano foi maior que Hollywood.

Jodorowsky diz ao retirar algumas notas de dinheiro do bolso: “Dentro desses papeis não existe nada! Filmes tem coração, poder, ambições!” É uma forma bastante melosa e até infantil de colocar suas frustrações. Porém, me tocou profundamente escutar essas palavras, especialmente com tanta valorização das massas pela indústria robótica hollywoodiana. No fim, a visão de Jodorowsky é tão cativante ao espectador que seu grande triunfo foi alcançado, sua paixão e dedicação permanecem como uma aula a jovens cineastas e cinéfilos sobre o quão grande e espetacular é Jodorowsky´s Dune.

Link IMDB: http://www.imdb.com/title/tt1935156/?ref_=nv_sr_1
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