domingo, 9 de novembro de 2014

Interstellar


As recentes declarações de Tarantino comparando o novo de Christopher Nolan aos filmes de Tarkovsky e Malick me deixaram no mínimo curioso. Não pelo fato de que minhas ultimas experiências com Nolan terem sido frustrantes, mas porque os diretores que Tarantino apontou não filmavam máquinas, coisa que o panteão de Hollywood sabe fazer de melhor. Máquinas ou excessivamente sentimentais, ou desprovidas de qualquer empatia (caso dos personagens de Nolan), mas ainda assim, robôs. Em seus melhores dias, Spielberg fazia no seu excesso de sentimentalismo histórias de carne e osso, sobre o fantástico acontecendo para pessoas ordinárias. Existia uma honestidade bastante peculiar na primeira parte da carreira de Spielberg, filmes que uniam as pessoas por possuírem um elemento extraordinário que fazia com que seus personagens tivessem reviravoltas em suas vidas. Spielberg lançava seus personagens rumo ao desconhecido. Mais tarde esses elementos deram lugar a um terreno seguro e sem as surpresas e o frescor dos primeiros. E essa introdução toda é pra soltar que Interstellar  tenta ter os atributos de um Tarkovski - ser um filme que leve a dimensões além do que está mostrado, ao mesmo tempo em que inicia como uma aventura aos moldes dos primeiros Spielbergs, mas que acaba parecendo mais com a ego-trip louca dos últimos.

Assim como em A Origem, Nolan se joga com bastante amor no tema de seu filme, que nesse caso é a física espacial. Esse carinho parece originar a maioria dos seus personagens, limitando-os na mera função de comentar e expor o que está acontecendo em boa parte do filme. Existe uma pressa em ir além, em sair do núcleo familiar de Cooper (Matthew McConaughey) – em “olhar para o céu novamente” como o personagem comenta. Nolan parece interessado em acelerar, carregando a maior parte dos diálogos com informações que de nada serviram para melhorar minha experiência, e chegar aonde lhe interessa, "ao infinito e além". A história da família ordinária que se depara com algo fantástico perde força frente ao elemento extraordinário. O filme deixa o virtuosismo dos efeitos especiais , junto com os  plots twist, se sobressair perante os personagens.

A obra fica grandiosa demais. Os minutos passam e o filme vai sempre adicionado: Novos dramas, personagens, teorias da física. Falta-lhe tempo para absorver todos esses elementos de maneira que cada um tenha seu devido lugar na narrativa. A sensação que permeia é de um filme carregado de ideias, mas que se perde devido ao mau desenvolvimento e ao excesso da trilha sonora de Hans Zimmer. Tudo é tão previsivelmente manipulado para causar impacto emocional, que se torna enfadonho.

Interstellar se incomoda em ser uma obra “old Spielberg”. Mesmo não tendo todas as qualidades de um Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1977), ele tenta desesperadamente ser um filme demasiadamente humano e sobre a raça-humana. Algo que se conecte e que o espectador seja capaz de se identificar com os personagens. Não que ele seja incapaz de ser para determinado público, mas quando percebo o artifício sendo utilizado de maneira tão histérica, ele perde a força. Personagens passam horas comentando sobre gravidade, espaço, tempo e quando se deparam com algo além de seu conhecimento ou que cause atrito entre eles, soltam um “mas o amor supera as leis da física”. Nolan parece bastante resolvido em sua “mensagem”, ele só não consegue transmiti-la sem soar artificial. Os elementos não se encaixam, há falta de bons personagens para um filme que se propõem a ser sobre seres-humanos.
O “incômodo” em ser um Blockbuster nostálgico e sua consequente tentativa em ser algo mais extraordinário (como os filmes de Tarkovski e Malick) acabam por reforçar a fragilidade de Nolan em contar boas histórias. Curiosamente a longevidade dos “Old Spielberg” é justamente pela falta de preocupação em ser algo único.  Histórias feitas para serem hits de verão, mas cuja humanidade e funcionalidade como cinema foram tão bem arquitetadas que se tornaram referências para várias gerações, coisa que o filme de Nolan, dificilmente, será.  

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