quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Top 2014

2014 em 10 filmes.

Seguindo o padrão da lista do primeiro semestre, ou seja, só entraram filmes que estrearam comercialmente no Brasil em 2014. Como alguns não possuem crítica no blog resolvi deixar comentários sobre todos. Em outros casos, como “Boyhood”, pretendo fazer uma crítica mais detalhada no futuro. Dessa vez resolvi enumerar os filmes por favoritismo, refletindo as obras que considerei as melhores de 2014, que tirando uma bomba cá e lá (Nolan, estou falando de você) certamente foi um ano bacana para o cinema.

10) Avanti Popolo:
Entrincheirado em uma história de perda e dor entre pais e filhos, a estreia em longa-metragem de Michael Wahrmann é um exercício audacioso de cinema político que usa narrações em over, filmagens de Super 8 e metalinguagem cinematográfica para criar imagens assombrosas da não presença de um filho desaparecido. Avanti Popolo é politizado sem soar panfletário, priorizando seus personagens-fantasmas e buscando a comunhão natural dos homens.

9) Quando Eu Era Vivo:
Outro filme assombrado por uma presença invisível, Quando Eu Era Vivo é um dos filmes brasileiros que mais remete ao gênero horror . Aqui existe toda uma escavação arqueológica em busca do passado, fazendo-o vir à tona com uma força agressiva que induz a imagem a um estado constante de paranoia. O filme de Marco Dutra é um artefato interessante do novíssimo cinema brasileiro e uma obra vital para amantes do horror.

8) A Imagem que Falta:
O exorcismo de demônios do diretor Rithy Pahn é a prova do poder cinematográfico de dar voz aos silenciados ou mortos por um regime ditatorial e fascista. Admitindo ser incapaz de achar a imagem que tanto procura, o filme de Pahn não deixa de ser menos impressionante em suas recriações de maquete, na sua conquista social e em seu caráter melancólico.

7) O Homem Duplicado:
O filme de Denis Villeneuve é um suspense psicológico fascinante. Metade simbologia, metade sonho Lynchiano, O Homem Duplicado mantém sua imagem envolta em névoa e em frieza para entrar na psique de seu protagonista . Uma história surreal sobre sexo, desejo e medo.

6) Amantes Eternos:
A geração desinteressada e pessimista condensada na forma de vampiros cools e condenados ao tédio. Jim Jarmusch fez um filme gótico e nostálgico sobre o amor como força redentora. Divido entre a catarse dos vícios e o silêncio opressor que se segue, Amantes Eternos mostra que o veterano diretor ainda carrega em si a jovialidade de suas primeiras obras e fez um filme clássico sobre vampiros, mas que soa fortemente contemporâneo em sua abordagem.

5) Nebraska:
Alexander Payne certamente se beneficiou das rugas de Bruce Dern para criar esse Road Movie empoeirado. Sem dramalhões e com bastante humor, Nebraska é um drama pungente de personagens carismáticos que depositam o peso de uma vida em uma história triste sobre os rumos que a vida toma. Pra ser visto com a família.

4) Sob a Pele:
Apoiado na beleza fria da alienígena demasiadamente humana (Scarlett Johansson), Sob a Pele causou furor excessivo pelas cenas de nudez de sua protagonista, porém nada foi colocado como gratuito. Seus closes expressivos, sua Mise en scène minimalista e sua trilha sonora cheia de chiados, tudo se conecta para criar um filme estranho e sobre estranhos em um mundo desolado e amedrontador que suga Scarlett em uma jornada barulhenta ao caos social e emocional.

3) Eles Voltam:
Mais de seis meses após seu lançamento, Eles Voltam só amplia seus horizontes. Em meio a comentários sociais, Marcello Lordello faz da jornada de sua protagonista Cris uma narrativa sobre amadurecimento e sobre o papel de cada um no mundo. Dificilmente uma obra consegue ser tão sutil em mostrar as nuanças e contradições da sociedade brasileira e nesse sentido, Eles Voltam é essencial não somente para os interessados em “coming of age movies" como também para se discutir questões nacionais contemporâneas.

2) Boyhood:
Se por um lado parece fácil encher de elogios devido aos 12 anos de filmagens que esse filme teve, por outro é difícil ignorar a maneira como Boyhood foi produzido e como sua narrativa reflete tal método. Em seus 12 anos, há um filme de momentos, despretensioso e relaxado sobre amadurecimento. Obviamente, o crescimento do ator principal influenciou nas cenas, mas o caráter naturalista aproxima o filme de um documentário caseiro em 12 partes. Apesar dessas partes estarem pouco preocupadas em compor uma narrativa de começo, meio e fim, cada uma consiste em um pequeno grande curta metragem. Doze obras-primas que chegam perto da verdade maior que destrói a barreira imposta de documentário e ficção em um filme que merece ser revisitado sempre.

1) Vidas ao Vento:
O canto de Cisne do gênio da animação japonesa, Hayao Miyazaki vai permanecer em minha memória cinéfila por anos. Essa ode ao espirito humano e seu poder em realizar sonhos é apenas ameaçado por suas consequências. Miyazaki reflete amargamente as contradições da vida, ao mesmo tempo em que não deixa de perceber uma beleza no cenário de guerra em que o protagonista se encontra. É preciso sabedoria e humanidade para se criar imagens que transitam entre o belo e o grotesco de maneira tão sutil quanto as de Miyazaki. Vidas ao Vento é cinema em estado de sonho, livre e meditativo. Não há erros, Miyazaki é um Sensei, tão hábil na arte de criar imagens que seu ultimo filme ainda consegue surpreender e fazer sonharmos tudo novamente. Essencial.

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quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Homens, Mulheres e Filhos

Most Of Us, Are Sad

Confesso que saí confuso após a sessão de Homens, Mulheres e Filhos. Não havia gostado, e assim continuo, porém  ainda naquela altura não sabia dizer precisamente o motivo de meu incomodo. Algo que espero entender melhor ao fazer essa crítica.

Jason Reitman se mostra seguro e no comando de seu filme sobre relacionamentos nos tempos da Internet. Igualmente confiantes estão seus atores (Adam Sandler, Jennifer Garner, Dean Norris, Ansel Egort), todos limpos, sóbrios e levando demasiadamente a sério seus personagens entediados e neuróticos. Nada de extraordinário em seus dramas: histórias de pais e filhos que buscam sair da monotonia de seus relacionamentos (sejam eles de ordem afetuosa ou interpessoal).

Existe uma vontade em expor essas histórias como maneira de conectá-las, fazendo assim um quadro sobre a solidão moderna. Reitman reforça constantemente seu ponto de vista trágico sobre aqueles personagens ao incluir uma narração robótica de Emma Thompson que exemplifica a dinâmica truncada e fria daqueles fantasmas perdidos. Homens, Mulheres e Filhos é uma espécie de Força sedada. Seus temas são pertinentes, seus personagens carregam dentro de si sentimentos redentores e ânsias por mudanças, porém todas essas potencialidades são dissipadas pela falta de energia da narrativa. A imagem é muita limpa e maquiada, construir um mundo de aparências é uma das propostas da narrativa, porém esse excesso acaba por apagar diversos pontos interessantes da caracterização dos personagens, tornando-os unilaterais e redundantes. Reitman os protege de julgamentos, morais, mas também os impede de ganhar camadas mais humanas. Todos estão aprisionados em uma imagem entorpecente, incapazes de saírem de seus arquétipos narrativos. O interesse é maior em criar uma obra que cite\exemplifique os tipos de solidão do que em criar personagens de carne e osso.


A questão do meu incomodo bate ai. Não sei até que ponto o que apresentei possam ser problemas para outros espectadores, ou se isso acaba por refletir meu cinismo em relação a essa geração, que é no caso, a mesma do filme. Talvez Reitman tenha criado um universo tão próximo que se torna inquietante reconhecer a "imagem entorpecente" como algo familiar. Esse cinema consequentemente se torna preguiço e conformista por não apresentar a jovialidade que seus personagens tanto tentam redescobrir. O filme é bem intencionado, mas lhe falta carisma e audácia em ser mais livre e sujo. Resultando em um cinema que se vende muito mais pelos nomes estampados em seu cartaz do que pela força de suas ideias e imagens.


                  Música do título:  
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