É
engraçado que os tons góticos e macabros do pôster de Caminhos da Floresta (Rob
Marshall), com uma Meryl Streep
devidamente caracterizada como bruxa, sejam tão pouco explorados em sua
narrativa. Senti uma vontade da Disney em vender o filme baseado na memória afetiva da
plateia por histórias folclóricas tipicamente europeias. Até mesmo a frase
inscrita, “Cuidado com o que deseja”, parece
evocar uma história clássica de conto de fadas. E de certa maneira, o filme de Marshall é, porém ainda encontra espaço
para releituras contemporâneas interessantes.
Iniciando
em um pequeno vilarejo estão os personagens famosos: o padeiro e sua mulher, a
Cinderela, o João, a chapeuzinho vermelho. Todos entediados com suas rotinas
até que a Bruxa ordena que o padeiro e sua mulher (James Corden e Emily Blunt) procurem na floresta certos itens,
resultando em diversos encontros com os outros personagens citados e mais outras figuras de
contos de fada: Rapunzel, o lobo mau e uma dupla de príncipes. A primeira
vista, não há estranhamento algum com tais personagens, existindo uma encenação
musical para todos corresponderam as suas respectivas imagens literárias.
Caminhos
da Floresta acaba revelando seus personagens por detrás de seus arquétipos como
pessoas inseguras e preocupadas em terem que corresponder a suas imagens. Seja
a mulher do padeiro desejando uma vida na realeza, seja a iniciação sexual
pelo qual a chapeuzinho passa, existe uma vontade de transpor os arquétipos, em
humanizá-los como figuras emotivas e comuns. Esses protagonistas fazem
contraponto a figura histérica, romântica e Camp do Príncipe (Chris Pine), que até metade da
narrativa parecia deslocado da brincadeira.
Marshall entende
seus personagens não como peças de um tabuleiro que visa criar um sentido maior
pela soma das partes, mas como pessoas de carne e osso que lutam para acharem seus lugares naquele universo. O “gótico” que apontei no pôster acaba por funcionar
como outra máscara para familiarizar o espectador com a memória que ele já
conhece para em seguida provocar o debate e a reflexão acerca de arquétipos e
pré-julgamentos nas histórias folclóricas.
No
final, Caminhos da Floresta poderia até se beneficiar de um corte
menor, mas isso não o torna com menos personalidade. Os números musicais acabaram
por ficar em segundo plano, exceto a hilariante e genial interpretação de Chris Pine para “Agony”. Porém minha falta de excitação com o gênero não impediu de
o filme ser uma surpresa divertida na tela grande.
Link IMDB: http://www.imdb.com/title/tt2180411/