quinta-feira, 14 de maio de 2015

Mad Max: Estrada da Fúria



Provável que essa crítica seja uma espécie de continuação de muitas ideias iniciadas na de Vingadores: Era de Ultron (http://bit.ly/1Ea7X7n). Achei inevitável que determinados aspectos de minha relação com Mad Max: Estrada da Fúria (George Miller) sejam ressaltados devido à má impressão que tive com o filme de Whedon. A crítica de Vingadores foi sobre a aparente impossibilidade de renovação dos filmes da Marvel e do gênero de ação hollywoodiano. Basicamente, filmes feitos para o público infanto-juvenil que são tão ingênuos (ou reacionários) em seus modelos “bonecos de fantoches salvando o mundo”. Excitação oca por prédios desmoronando. O quarto filme da saga de Miller consegue se distanciar de tais problemas com tamanha naturalidade que não me espanta a calorosa recepção ao redor do globo do “melhor filme de ação hollywoodiano dos últimos 10 anos”. Certamente é o melhor filme do gênero que foi dirigido por um “senhor” de 70 anos. George Miller demonstra vigor e tremenda habilidade em dirigir uma obra totalmente consciente das particularidades do gênero em narrar à queda do mundo. Para tal diegese ele utiliza da mesma fonte que produz tantas extravagâncias vulgares: Um orçamento generoso calculado em 150 milhões de dólares, sendo justificado em cada frame. A extravagância fílmica se dar por muita maquiagem, dezenas de veículos reduzidos a metais distorcidos, explosões vibrantes, balas voando, guitarras flamejantes, pessoas sucumbidas à loucura e muita violência física e psicológica. Tal empreitada atinge seus objetivos nos primeiros instantes de projeção, um filme insano sobre a perda de sanidade da humanidade. E no meio do calor e da areia, Mad Max constrói uma tensão física tão palpável quanto qualquer filme de terror onde tripas explodem para fora. Um senso grotesco de personagens e situações, o regresso aos sentimentos mais ancestrais do homem assombra todo o filme. Aqui, metal, aço e fogo são orgânicos, simbióticos com os personagens. Seja pelo braço prostético de Furiosa (Charlize Theron), pelo aparelho respiratório de Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne), pela focinheira e cicatrizes cauterizadas de Max (Tom Hardy) ou pelas correntes presas a diversas personagens femininas. Somados a elementos como areia e suor, fazem com que o filme seja constantemente sucessível a sensações agonizantes. Um grito sobre a terra, fogo, metal e carne tão primitivo e enraizado em nosso subconsciente quanto os tambores de guerra que rufam durante quase toda a projeção. Porém se essa “Ordem do caos” das cenas de ação ocupa boa parte do filme, ele certeiramente faz o oposto em seus momentos de calmaria antes da tempestade. Diálogos lacônicos e a dificuldade em seus protagonistas comunicarem entre si revelam um subtexto cheio de nuances e diversidade ao tocar em assuntos como alienação, fanatismo religioso e feminismo. Há tantos detalhes que o filme joga a fim de conectar o caos pirotécnico com seu roteiro, como o fato das escravas sexuais de Immortan Joe serem interpretadas em sua maioria por modelos famosas. O que para mim soa como uma crítica à obsessão doentia e sexual que a cultura da celebridade tem por seus ícones. Mad Max é cheio disso: Pistas, provocações e estranhamentos que aos poucos formam camadas e camadas de interpretações. Na importância que Miller dá a tais momentos, o drama do filme aflora e se conecta ao espectador como uma história atual. Um alerta para a vontade do homem em se destruir e levar junto o que está ao seu redor. O filme chega a apontar saídas para seus conflitos e não poderia ser mais Anti-hollywood seu maravilhoso plano final. A verdade é que Mad Max: Estrada da Fúria não remete em nada a indústria onde foi produzido, ele levanta bandeiras sem cair em sentimentalismo e é artesanalmente atencioso em ser provocador, urgente, agressivo e desagradável. Miller eleva os parâmetros do gênero novamente, para ser visto e revisto na tela grande

















Link IMDB: http://www.imdb.com/title/tt1392190/
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quarta-feira, 6 de maio de 2015

Vingadores: Era de Ultron

 Fuck Yeah!

Lançado em 2004, Team America - Detonando o Mundo (Trey Parker), pegou embalo em duas coisas: A corrida presidencial americana no auge da guerra no Iraque/Afeganistão e no excesso de filmes de ação produzidos em Hollywood. O filme tecia críticas mordazes – e hilariantes, diga-se de passagem- ao policiamento dos Estados Unidos no mundo. Personagens chegavam com seus tanques, helicópteros destruindo metade de Paris em busca de terroristas e ao fim da missão diziam aos parisienses: “Não se preocupem, a ameaça se foi”. A produção sabiamente utilizou marionetes e cenários artesanais para enfatizar a artificialidade da obra. Um filme que ridiculariza sua mise em scène em prol da sátira política. Afinal de contas esse é um filme aonde o mito do herói é destroçado em situações constrangedoras, onde os brinquedos bélicos dominam a cena (causando a destruição desnecessária do Louvre) e onde a canção tema se chama “America! Fuck Yeah!”. Uma gargalhada sobre a real possibilidade do ser humano causar sua extinção. Penso eu que Parker entende a impossibilidade de qualquer seriedade em seu filme, restringindo-a aos questionamentos do espectador diante daquilo que vê.


Vingadores: Era de Ultron (Joss Whedon) tem armas bélicas, CGI aos montes e histeria por seus personagens. É notável o encantamento infantil que Whedon tem por seus heróis, percebe-se o desejo em fazê-los ter o mesmo peso emocional na tela. Uma pena que seu roteiro acaba por cair na armadilha de servir apenas aos maneirismos dos mesmos. Fazendo-o soar como um Team América sóbrio.

Aqui as pessoas estão bastante sérias, sofridas e determinadas em resgatar o mundo da provável extinção arquitetada pelo vilão Ultron (James Spader). “Mal” esse que se forma pelas mãos dos próprios heróis - salvadores do mundo. Em seu início, Vingadores parece ter o desejo de alertar sobre catástrofes feitas pelo homem, até pela maneira como Ultron se apresenta, remetendo a um ser grotesco criado pelo uso das inovações tecnológicas de maneira irresponsável. Consciente de sua natureza, o vilão funciona como um niilista, se opondo as utopias humanas que os personagens e próprio filme piamente acreditam. Minha empolgação se deu na expectativa do choque entre a polarização do caos e da fraternidade. Porém se em seus primeiros trinte minutos, Vingadores abre espaço para reinterpretações da figura do herói ( e suas consequências), ele passa o restante de suas horas se sabotando com a típica mesmice da Marvel Studios.

“Todo filme da Marvel é igual”, crítica que é feita cada vez mais. Se por um lado pode parecer rasa, por outro demonstra cada vez a falência da produtora em pensar e fabular seus heróis além do que é esperado deles. Vingadores: Era de Ultron talvez seja um dos maiores exemplos disso. As afetações dos personagens se tornam mais importante do que a própria narrativa, o que é vendido são produtos da cultura pop. Não há representações dos heróis para além de suas habilidades especiais, são fantoches armados que visitam países “exóticos” na África e Ásia e destroem tudo em nome da “salvação da terra”. O que havia me agradado no filme era a aparente conscientização a lá Team América de sua diegese, porém ele cede ao entretenimento oco e risivelmente sério.

Vingadores também não consegue ser esteticamente interessante. Os últimos filmes do estúdio são estéreis: mesmos efeitos, mesmas piadas fora de tom, mesmos finais, mesmos prédios gigantes caindo. A crítica rasa permanece, uma pena, existia bastante potencial. Talvez quando pararem de produzirem filmes sobre bonecos de ação e apostarem em imagens inusitadas e sobre o que elas representam, teremos filmes que saiam tão interessantes quanto o material de origem.

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