Provável que essa crítica seja uma espécie de continuação de muitas ideias iniciadas na de Vingadores: Era
de Ultron (http://bit.ly/1Ea7X7n). Achei inevitável que determinados
aspectos de minha relação com Mad Max:
Estrada da Fúria (George Miller) sejam ressaltados devido à má impressão que
tive com o filme de Whedon. A
crítica de Vingadores foi sobre a
aparente impossibilidade de renovação dos filmes da Marvel e do gênero de ação
hollywoodiano. Basicamente, filmes feitos para o público infanto-juvenil que
são tão ingênuos (ou reacionários) em seus modelos “bonecos de fantoches salvando
o mundo”. Excitação oca por prédios desmoronando. O quarto filme da saga de Miller consegue se distanciar de tais
problemas com tamanha naturalidade que não me espanta a calorosa recepção ao
redor do globo do “melhor filme de ação hollywoodiano dos últimos 10 anos”.
Certamente é o melhor filme do gênero que foi dirigido por um “senhor” de 70
anos. George Miller demonstra vigor
e tremenda habilidade em dirigir uma obra totalmente consciente das
particularidades do gênero em narrar à queda do mundo. Para tal diegese ele
utiliza da mesma fonte que produz tantas extravagâncias vulgares: Um orçamento generoso calculado em 150 milhões de dólares, sendo justificado em
cada frame. A extravagância fílmica se dar por muita maquiagem, dezenas
de veículos reduzidos a metais distorcidos, explosões vibrantes, balas voando,
guitarras flamejantes, pessoas sucumbidas à loucura e muita violência física e psicológica.
Tal empreitada atinge seus objetivos nos primeiros instantes de projeção, um
filme insano sobre a perda de sanidade da humanidade. E no meio do calor e da
areia, Mad Max constrói uma tensão
física tão palpável quanto qualquer filme de terror onde tripas explodem para
fora. Um senso grotesco de personagens e situações, o regresso aos sentimentos
mais ancestrais do homem assombra todo o filme. Aqui, metal, aço e fogo são orgânicos,
simbióticos com os personagens. Seja pelo braço prostético de Furiosa (Charlize
Theron), pelo aparelho respiratório de Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne), pela
focinheira e cicatrizes cauterizadas de Max (Tom Hardy) ou pelas correntes
presas a diversas personagens femininas. Somados a elementos como areia e suor,
fazem com que o filme seja constantemente sucessível a sensações agonizantes. Um grito sobre a terra, fogo, metal e
carne tão primitivo e enraizado em nosso subconsciente quanto os tambores de
guerra que rufam durante quase toda a projeção. Porém se essa “Ordem do caos” das
cenas de ação ocupa boa parte do filme, ele certeiramente faz o oposto em seus
momentos de calmaria antes da tempestade. Diálogos lacônicos e a dificuldade em
seus protagonistas comunicarem entre si revelam um subtexto cheio de nuances e
diversidade ao tocar em assuntos como alienação, fanatismo religioso e
feminismo. Há tantos detalhes que o filme joga a fim de conectar o caos
pirotécnico com seu roteiro, como o fato das escravas sexuais de Immortan Joe
serem interpretadas em sua maioria por modelos famosas. O que para mim soa como uma crítica à obsessão doentia e sexual que a cultura da celebridade tem por seus ícones. Mad Max é cheio disso: Pistas, provocações e estranhamentos que aos
poucos formam camadas e camadas de interpretações. Na importância que Miller dá a tais momentos, o drama do
filme aflora e se conecta ao espectador como uma história atual. Um alerta para
a vontade do homem em se destruir e levar junto o que está ao seu redor. O filme chega a
apontar saídas para seus conflitos e não poderia ser mais Anti-hollywood seu
maravilhoso plano final. A verdade é que Mad
Max: Estrada da Fúria não remete em nada a indústria onde foi produzido, ele
levanta bandeiras sem cair em sentimentalismo e é artesanalmente atencioso em
ser provocador, urgente, agressivo e desagradável. Miller eleva os parâmetros do gênero novamente, para ser visto e
revisto na tela grande
Link IMDB: http://www.imdb.com/title/tt1392190/