That´s Entertainment.
Em
algum momento de Jurassic World (Colin
Trevorrow), Clare (Bryce Dallas
Howard) comenta a dificuldade de surpreender e manter a atenção de
pessoas que já viram um dinossauro: “Nos anos 90 era incrível, 20 anos depois o
interesse diminui”. Os répteis ressuscitados por meio da genética são parte de
um grande freak show do
entretenimento, mas o simples fato de tê-los andando sob a terra após 65
milhões de ano já não representa muita coisa numa sociedade que busca consumir
o máximo e aproveitar o mínimo. Certamente, deve ter sido incrível assistir a Jurassic Park em 1993. Continuou a ser
anos depois, quando assisti e fui encantando pela capacidade de Steven Spielberg em recriar os dinossauros.
Quase 20 anos após Tubarão (1975) -
um dos melhores filmes de monstros - Jurassic
Park mostrou que seu diretor continuava hábil em brincar com nosso
imaginário. Dinossauros e Tubarões provocavam fascínio e
medo não só pela qualidade dos efeitos, mas devido ao fato que Spielberg sabia quando mostrá-los.
Ele entedia que seus monstros provocavam expectativas justamente por existirem na tela do cinema. Um
excitamento infantil em acreditar que tais criaturas existem. Todo o filme funciona
como um retorno para essa ingenuidade, até a própria carreira de Spielberg pode ter interpretação
semelhante. Jurassic World é nada
mais, nada menos que uma tentativa de voltar ao filme de 93, porém ele admite
sua incapacidade em ser algo impactante como o original foi. E se não há espaço
para a beleza do primeiro filme, há um apreço pelo humor da auto parodia,
que em si é uma espécie de beleza.
Lindo <3 |
A nostalgia impera no filme: personagens
comentam sobre o antigo parque, onde “existiam dinossauros de verdade”. Algumas
cenas do primeiro filme são recriadas, a música tema de John Williams é usada
constantemente e até um dos atores (BD
Wong) retorna ao mesmo papel. Essa
“homenagem” histérica ocorre como forma de expor o abismo que separa um filme
do outro, tecendo diversos comentários sobre a indústria de entretenimento na qual ambos filmes foram produzidos. Enquanto o filme de Spielberg
possui o fascínio em mostrar/ esconder seus monstros, o filme de Trevorrow entende que após 20 anos de excesso
do CGI os mesmos monstros não impressionam ninguém. A indústria de
entretenimento é completamente metaforizada em Jurassic World, especialmente na atração principal do filme: O Indominus Rex. "Faça-o maior e mais legal", comenta o dono do parque. Um dinossauro criado a partir de vários outros para manter as atrações com ar de novidade. Penso eu que tal dinossauro é a própria Hollywood
fabricando o filme. Colando diversos retalhos referentes ao filme original, bem como lutando para manter o interesse dos espectadores por uma velharia. Jurassic World não ativa suspense, drama, ele é um produto Kitsch conscientemente dependente de seu
passado, reduzindo-o a banalidade do cinema blockbuster
contemporâneo. É
tudo um jogo de representações e arquétipos. Owen (Chris Pratt) não é um herói, é um wannabe, assim como diversos outros personagens. O filme é uma
grande gargalhada: Frases de efeito propositalmente hilárias, CGI em excesso,
situações extravagantes de “Oscar Cameos”
como seus monstros correndo em slow motion. A artificialidade hollywoodiana –
bem como sua honestidade em revelar o fundo de seu ar- raramente é exposta
dessa maneira.
Exemplificado
nos irmãos protagonistas encontra-se a própria dicotomia do filme. Gray (Ty
Simpkins) o caçula é encantado por dinossauros e demonstra empolgação a cada
novo bicho. A criança inocente que é facilmente impressionada, aquela que Spielberg tenta trazer a tona em seus
filmes. Já Zach (Nick Robinson) é o típico adolescente entediado até para ver
um T-Rex. Representativo da outra
parte do público que tanto os organizadores do parque quanto o filme tenta
chamar atenção. A metalinguagem funciona, pois ela se formata em críticas ao
caráter (aparentemente) estéril e ordinário do filme.
Porém
como brincadeira camp, ele não deixa
de apresentar certo sexismo na relação de Owen e Clare, como também se apoia de
clichés batidos como a do personagem negro sempre ser amigo do protagonista,
nunca ganhando uma linha narrativa interessante. Diferentemente dos outros clichés bem
trabalhados no filme, esse racismo e machismo ainda representam o conservadorismo
hollywoodiano. De resto, fica a boa surpresa da mistura de referências com estéticas
inusitadas para forma um filme ridículo que é consciente das limitações de seu
gênero.
Link IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0369610/
Música do título: