quinta-feira, 31 de julho de 2014

A Bruma Assassina (The Fog)

 A Bruma Assassina

Normalmente visto como um filme menor na carreira de John Carpenter, The Fog pavimentou o terreno para futuros clássicos de sua filmografia, ao mesmo tempo em que se revela uma obra importante em si. Cidade litorânea ameaçada por forças sobrenaturais, névoa misteriosa, o plot não é dos mais originais, mas essa temática proporcionou filmes inventivos do gênero (Os Pássaros, Tubarão, etc) e o de Carpenter não é uma exceção.

Sofisticado, o filme oculta boa parte de seus monstros, preferindo uma abordagem mais contida, onde o terror surge dos cantos, constantemente sugando o espectador para seu clima onírico e tenso. Talvez seja o filme de Carpenter que mais se utiliza de paisagens naturais. Planos abertos contribuem para aumentar a escala da tensão por toda a extensão da cidade, fazendo o espectador sentir a impotência que a cidade sofre diante o sobrenatural. Esses planos ainda reforçam que não há personagens principais, sendo a própria cidade o protagonista.

Porém seus momentos em cenários fechados, também são dignos de nota. Carpenter cria uma Mise en scène interna fantástica, onde os sustos ocorrem de maneiras imprevisíveis e em lugares inusitados. Sendo eles tão barulhentos, que contrastam perfeitamente com o tom frio e contido da narrativa, fazendo com que esses momentos sejam ainda mais aterrorizantes.
O filme ainda abre espaço para criticar as festividades norte-americanas. Mostrando que por detrás da alegria e do sentimento de união, existe algo macabro, que é sepultado nas raízes da sociedade. Aqui, o mal tem suas origens apresentadas, porém ele nunca é totalmente compreendido por aqueles que sofrem suas ações. Carpenter reforça o caráter de pesadelo, fazendo um filme que não se preocupa em ter um roteiro fechado, mas sim, em ser assustador e crível para sua plateia. Pois quando o terror começa, a única realidade é o medo de ser morto. Apesar de não entender esse “monstro do armário”, estava assustado e feliz ao longo de 90 minutos de puro suspense.

Link IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0080749/

   Música pra acompanhar:
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quarta-feira, 9 de julho de 2014

Memória da Neblina

Of everything that stands, the end.

Procurando seu pai desconhecido, dois irmãos atravessam a Grécia na esperança de chegarem à Alemanha. Em meio a viagens em trens e de um país devastado, o amadurecimento ocorre de maneira abrupta e cruel.

Paisagem Na Neblina é a contemplação da busca pelo inexistente. A cor cinza toma conta da tela, enquanto os personagens passeiam por um limbo de almas penadas que, como os irmãos, se encontram perdidas e desamparadas. A neblina define paisagens fantásticas e surreais de um horizonte sem fim. Angelopoulos ainda compõe impressionantes enquadramentos dos rostos de seus personagens, que por si só, já são belas paisagens.

Movendo-se lentamente, existe um filme metafísico que soube muito bem se utilizar de planos longos para criar uma um mundo perdido, abandonado e com dias contados. Paisagem na Neblina é um filme desolador, que consegue captar perfeitamente o ar que respiramos.











                Música do título:
                   
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sexta-feira, 4 de julho de 2014

Heli

É mais ou menos assim: Violência gera violência, que leva a mais violência, resultando em um pouco mais de violência. Isso é a sinopse de um punhado de filmes latinos americanos e Heli é mais outro.

Os temas sociais abordados nesse filme são pertinentes sim, mas a formula na qual ele é produzido já se encontra desgastada há umas boas décadas. Heli é o nome do protagonista que vive com mulher, irmã, filho e pai em uma zona violenta do México moderno. Sua irmã Estela possui 12 anos e namora um rapaz mais velho, que acaba usando a casa da família de Heli como esconderijo para drogas. A partir dai se inicia inúmeras ações que causam diversos tipos de violência aos personagens.

A violência é antecipada desde o primeiro plano (espetacular, por sinal), onde vemos um cadáver e uma bota pressionando o rosto ensanguentado. Amat Escalante é um diretor de mão cheia, Heli até recebeu o prêmio de melhor diretor em Cannes, sua câmera construí um excelente clima opressor, pontuado por: Som seco e alto, e planos tensos de câmera na mão. A encenação nas cenas violentas também é ótima, sendo sujas e desagradáveis (mas não tão insuportáveis quando algumas críticas atestam). O diretor ainda encontra espaço para tecer críticas sutis a banalização da violência no cotidiano.

Porém, infelizmente o filme se atêm a isso, sendo bastante enfadonho em seu terço final. Não há grandes inovações em sua abordagem e a mensagem é entregue na metade do filme. De resto, a obra fica andando em círculos enquanto demonstra a já dita fórmula da “violência gera violência”. O filme encontra seu pior em seus momentos finais, que se tornam uma sucessão de cenas retóricas e de pouco impacto imagético.


Uma pena, pois tive o sentimento de que o filme seria bem mais do que foi. Mediano, Heli possui seus melhores momentos proporcionados pela ótima direção de Escalante, mas que não é o bastante para tornar a obra uma experiência marcante. Por fim, acredito que sua premiação mundo afora, infelizmente, ainda reflete o desejo do estrangeiro (particularmente do europeu) por histórias acerca dos problemas sociais do “terceiro” mundo. Triste, pois esse cinema tem muito mais a oferecer.

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quinta-feira, 3 de julho de 2014

Top 10 filmes de 2014.1



Quem não gosta de amar, odiar, discordar ou ignorar listas? Como o primeiro semestre do ano terminou, achei interessante fazer uma triagem dos melhores filmes que vi no cinema durante esses primeiros meses. Aqui só estão filmes que estrearam comercialmente nos cinemas brasileiros nessa primeira parte do ano (contei com Budapeste pois diversas pré estreias já ocorreram, com o filme lançando definitivamente em 02/07). A maioria são filmes que não apareceram no Blog, pois esse só foi criado em maio. Lembrando que estou aberto a comentários sobre a lista e que os filmes estão colocados de forma igualitária (O top 10 de melhores, com primeiro e segundo lugar, só no fim do ano). Sem mais enrolações, ai vai o top 2014.1:

A Imagem que falta:

Indicado ao Oscar de melhor documentário, o filme de Rithy Pahn foi uma das mais agradáveis surpresas do ano. A obra é uma recriação de suas memórias dos anos de ditadura no Camboja. Obcecado por encontrar a imagem não mostrada e ignorada, Pahn constrói um documentário forte e melancólico, mas que se afirma incapaz de exibir toda loucura e sofrimento que ele e sua família passaram. A história recontada, em boa parte, através de bonecos artesanais é uma jornada emotiva e metalinguística, enfatizando o poder do cinema para exorcizar demônios interiores e de tocar em feridas e fantasmas que muitos parecem terem esquecido. 

Avanti Popolo:

Avanti Popolo é um filme que só melhora com o tempo. A estréia em longas-metragem de Michael Wahrmann é de uma maturidade cinematográfica impressionante, Avanti Popolo é um filme narrativamente nostálgico e esteticamente inovador. Ao contar a história de pai e filho separados pela dor do desaparecimento de outro filho, Wahrmann se utiliza de narrações em over, filmagens em Super 8 e comentários sobre o cinema, para fazer um filme político inteligente e único. Merece ser visto e revisto.

Nebraska:

Continuando seus dramas familiares, Alexander Payne encontra em Nebraska seu melhor momento. Pai e filho atravessam o país rumo ao Nebraska para o pai conseguir uma recompensa de um milhão de dólares. O filho sabe que não existe recompensa e tenta convencer o pai do mesmo, porém mesmo assim decide acompanhá-lo. Nebraska é o filme mais áspero da carreira de Payne, um drama minimalista (filmado em Preto e Branco) e intimista que não se utiliza de emoções baratas para emocionar o público. Payne, apoiado nas boas atuações de seus atores, constrói um painel de rostos fascinantes ao longo da jornada, fazendo de Nebraska um filme triste sobre os rumos que a vida toma.

Hoje eu Quero Voltar Sozinho:

Hoje eu Quero Voltar Sozinho é um clássico exemplo de “Coming of Age”: Adolescente cego, de poucos amigos, vai se apaixonando por um garoto que acabou de chegar a sua escola. Aqui, as emoções são mais cruas, diferenciando de vários outros filmes do gênero, o filme não tem medo em mostrar cenas de nudez ou de masturbação. Mas esses elementos não são gratuitos ou desnecessários e sim parte essencial no desenvolvimento de uma narrativa simples e enxuta sobre os primeiros amores.

O Lobo de Wall Street:

Ah sim amigos, para mim não existe melhor cineasta norte americano que Martin Scorsese. Com uma bagagem extensa, Scorsese não perdeu nenhum traço da jovialidade de suas grandes obras e Lobo de Wall Street reafirma isso. Com três horas de duração, e uma atuação marcante de Leonardo Dicaprio, o filme é divertido, feroz e crítico acerca da ganância e violência que o American Way of Life proporciona. Remetendo a Bons Companheiros e Casino, Lobo de Wall Street vai além desses e inova na filmografia de Scorsese ao: Quebrar a quarta barreira diversas vezes, utilizar o CGI de forma inteligente e inserir um humor corrosivo e politicamente incorreto digno de um South Park. Lobo de Wall Street é um dos melhores da safra recente de Scorsese.

Sob a Pele:

Rapidamente se tornou o filme mais comentando do semestre, Sob a Pele é um dos comentários definitivos sobre “ser” humano no século XXI. Scarlett Johansson dá o melhor desempenho de sua carreira como a Alienígena Femme fatale que seduz e mata homens em uma Glasgow tão atraente quanto assustadora. Jonathan Glazer criou um filme de suspense único que bebe das melhores ficções científicas do cinema, mas que encontra sua própria voz e caminho em meio a épocas de globalização, internet e ditadura de beleza. Sob a Pele é um dos melhores filmes a surgir nos últimos anos, um suspense de ar clássico, mas soando brutalmente moderno.

Vidas ao Vento:

Anunciado como o ultimo filme de sua carreira, ainda bem que isso já foi desmentido, Vidas ao Vento teria sido um belo canto de cisne do japonês Hayao Miyazaki. O filme é belo, melancólico e surreal em medidas certas, sendo a jornada de Jiro um painel de enquadramentos extraordinários. Mais do que imageticamente impressionante, Vidas ao Vento é uma ode aos nossos sonhos e como eles se tornam responsáveis pelos caminhos que traçamos. Cativante por sua simplicidade, marcante por sua densidade, Vidas ao Vento é mais um grande filme de Miyazaki.

 O Lobo Atrás da Porta:

Visto pela terceira vez, confirmo novamente: Fernando Coimbra é um nome a se ficar de olho. Privilegiado pela ótima fotografia de Lula Carvalho, O Lobo atrás da Porta é o suspense do subúrbio: Quente, sufocante e cheio de situações corriqueiras que poderiam acontecer com qualquer um. Coimbra se utiliza de planos longos para observar as nuanças comportamentais de personagens instáveis, que são colocados contra a parede. O resultado é um suspense que foge do lugar comum, com ótimas atuações e de imagens cruas e violentas.

O Grande Hotel Budapeste:

Wes Anderson continua com seus filmes plásticos, coloridos e milimetricamente construídos e esse é tão atraente quanto os anteriores. O filme se relaciona com as melhores comédias hollywoodianas da década de 40, mas é feito com um caráter contemporâneo particular ao diretor. Budapeste investe em temas mais sombrios, como atesta sua palheta de cores e seus personagens, mais multifacetados e realistas do que os tradicionais. Aqui, o cineasta mostra seu pessimismo com a humanidade, como também seu amor pelos falsos e vazios que compõe seu filme.

Eles Voltam:

Esse Road Movie foi um dos que mais esperei para ver na tela grande. A estréia de Marcelo Lordello nos longas metragens se dar por um filme de autodescoberta de uma adolescente que é abandonada pelos pais na autoestrada. Sendo um filme sensível a enxurrada de sensações que a puberdade trás, Eles Voltam é corajoso por mostrar mais do que falar, aqui o silêncio consiste de importante elemento narrativo. Com ajuda de belas paisagens, Lordello monta uma obra que privilegia o interior de sua protagonista, que tenta se adaptar em meio a rostos e cotidianos estranhos aos seus. Eles Voltam ainda tece alguns comentários sociais, fazendo do filme outra grande obra nacional a ser descoberta pelo público brasileiro.

Quando Eu Era Vivo (Menção Honrosa):

Injustiçado nas bilheterias nacionais, Quando Eu Era Vivo é um filme de terror mais preso ao gênero, porém isso não o deixa menos interessante. Seguindo o caminho que já havia desenvolvido em Trabalhar Cansa, Marco Dutra constrói um terror familiar, com toques macabros, sobre o regresso do filho a casa do pai. Narrativamente surpreendente e esteticamente bem executado, Quando Eu Era Vivo se utiliza do ótimo design de som para criar uma atmosfera claustrofóbica onde a paranoia e a loucura não param de aumentar. E viva o Terror!
























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