“Tema o
homem com nada a perder” é o que diz a frase no cartaz de The Rover, o homem em questão é Eric (Guy
Pearce), porém essa frase evoca além do protagonista de The Rover. Ela é sobre o
tipo de homem que a falta de civilização irá formar quando o colapso social
acontecer. Em The Rover, o colapso já aconteceu e o homem se tornou,
abertamente, o lobo do próprio homem, como já havia sido apontado por Thomas
Hobbes. A citação do filósofo é vital, não só para a compreensão
dos personagens do filme, mas também para podermos encontrar razões para o tal
colapso ter ocorrido.
Espécie de neo Mad
Max, The Rover se passa na Austrália, em um futuro não muito
distante onde a sociedade sucumbiu a quase total anarquia. No meio do deserto,
uma quadrilha de ladrões rouba o carro de Eric, que parte furiosamente a
procura do veículo quando encontra Rey (Robert Pattinson), irmão de um dos
assaltantes, e principal meio de Guy recuperar seu carro. Juntos, eles iniciam
uma caçada pelo Outback australiano. O choque de personalidades é recorrente, pois Eric é de caráter
violento e de pavio curto, enquanto que Rey é deficiente mental e de caráter mais passivo
Vestido de Western, The
Rover analisa o valor do ser humano no meio corrompido que o próprio
construiu. Não há buscas por redenção, nem mensagens religiosas do fim do mundo.
O deserto é composto por personagens violentos, dispostos a tudo para
conseguirem lucrar ou terem seus bens materiais recuperados. Esse lado mercadológico é enfatizado, excessivamente, na obra. Deixando diversas
evidencias que o “fim” da civilização se deu por conta do capitalismo
desenfreado. A obra é desumana e impiedosa, como o capitalismo. Sua crítica é
pertinente aos dias atuais e o filme atinge satisfatoriamente sua função de se entrincheirar no futuro para poder explicitar e criticar aspectos do presente.
A aridez do deserto se encontra em perfeita
sintonia com os personagens de cara feia e David Michôd sabe muito
bem se utilizar das paisagens para expressar o abismo em que seus protagonistas se encontram. Também sabe priorizar close-ups para interiorizá-los e fazer vir à
tona toda a melancolia que a obra carrega. Lembrando bastante a obra do
americano Sam Peckinpah, porém esse explorava o apocalipse da sociedade
americana, Michôd expande esse conceito para o colapso da civilização como um
todo e ainda projeta uma pequena, pequenininha, fração de esperança.
O lado negativo é que a narrativa
não engrena além do esperado, por mim, desse tipo de filme. Sendo datado
após a primeira meia-hora. Mesmo com um final que fornece uma nova luz sobre a
narrativa, The Rover acaba por carecer de originalidade. Sendo bastante preso ao seu
final, demorando muito tempo em adicionar algo relativamente simples,
porém significativo. Essa falta de inventividade é compensada pela boa química
dos protagonistas e pela excelente atuação de Robert Pattinson, seu melhor momento no cinema até agora. Sua carreira poderia
ficar restrita ao sucesso da saga Crepúsculo e ao dinheiro fácil de
diversos papeis medíocres que Hollywood poderia ter oferecido. Talvez com outro ator, Rey seria um objeto feito
para provocar sentimentalismo barato, porém Pattinson cria um personagem cheio de nuances e com um
desenvolvimento, no mínimo, interessante. Similar a um processo de “fim da
inocência”, o protagonista é emotivo e acuado em medidas certas.
Visto na sala de luxo do
Shopping Recife, um local irônico de exibição para um filme que critica tão
duramente o capitalismo, a obra fica na média. Funciona como western e tem bons
atores, só não fez coisas que outros já não fizeram. Saldo positivo, pois
instiguei de assistir a obra anterior do diretor, o aclamadíssimo, Reino
Animal.
Eu estava procurando esse filme, mas não lembrava o nome. Consegui achar graças a seu texto, que fez o Google me jogar aqui!
ResponderExcluirParabéns e Obrigado!