A barriga de um homem
arranca os braços de outro fora. Há bastante medo físico em The
Thing. Carpenter horroriza o espectador em sua reflexão de sangue,
tecidos e ossos distorcidos do ser-humano. O grau de monstruosidade que o
diretor injeta em seu filme se assemelha as formas deformadas e amedrontadas das
pinturas de Goya, uma verdadeira visão do inferno. A imagem é tão gráfica,
vibrante, tensa e provocadora ao retratar os corpos de seus personagens que não
é de se surpreender sua fria recepção em 1982.
O minimalismo da música
tema instaura expectativa e suspense, que surge na figura de um cão sendo
perseguido por um helicóptero. Mais tarde a platéia descobre que se trata de um
ser capaz de se transmutar em qualquer organismo, gerando pânico e desconfiança
entre os personagens. Carpenter filma na altura do cão, conferindo-lhe poder e
espaço na tela. Sua transformação é uma grande proeza para o gênero, não só
pelos efeitos especiais orgânicos e espetaculares, como também pela prova do grande
talento de seu diretor em assustar plateias e em corresponder suas expectativas
com imagens amedrontadoras e inusitadas.
Porém seria um erro ler
esse filme como sucessão uma de imagens vulgares de violência gráfica. Em vez
disso, Carpenter prioriza a construção de uma atmosfera fria e até onírica da
Antártica, para gradativamente sucumbi-la em um clima de paranoia que traz
consigo a fotogenia impressionantemente surreal do monstro homônimo. A
narrativa não se apressa em exibi-lo como um fantoche genérico igual a tantos
outros do gênero, mas como uma força única e implacável que também se revela no
extracampo sonoro de sons ásperos e estridentes. Sua origem não é apresentada,
o espectador e os personagens entendem que o monstro possui dimensões e
aparências imensuráveis. O próprio The Thing é carregado de tais
dimensões, o cosmos mundial se disfarça em treze personagens acuados pela
“coisa” metamórfica. Alegorias com a histeria do surgimento da AIDS e suas
primeiras “soluções” de extrema direita (isolar os infectados) são bastante
cabíveis ao filme. Pois a força de seu subtexto consiste no choque entre diferentes
mentes, etnias e classes ameaçadas pela violência do desconhecido.
E que maneira seria mais apropriada de se
terminar do que com a destruição física e mental dos envolvidos? A orquestração
da violência diminui seu ritmo, porém ela permanece. A ambiguidade de seu final
é discutível, porém sua força em impactar e fragilizar o espectador, não.
Link IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0084787/
Morricone <33333333:
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