Freak
Show
A imagem de uma menina
sorrindo para a câmera e logo em seguida se jogando de um prédio é certamente
algo marcante. O espectador é imediatamente tentado a sentir pena e a querer
entender os motivos que levaram a um ato tão violento e radical. O diretor Alexandros
Avranas mantém sua câmera a serviço das investigações da platéia, ela se
movimenta livremente pelo cenário enquadrando e aprisionando em planos
fechadíssimos os culpados e os presentes no suicídio da menina, ou seja, seus familiares.
Miss Violence
é um filme bastante seco e violento, tanto na sua narrativa quanto na sua
estética. Tonalidades frias e acinzentadas misturam personagens a
ambientes claustrofóbicos e hostis. Não tarda muito e o filme mostra o porquê
de determinadas escolhas. A família de Angeliki (a menina suicida) se recusa a
aceitar que ela possa ter se matado, preferindo continuar a viver o mais
normalmente possível. Em meia hora de filme, o patriarca da família (ótima
atuação de Themis Panou) revela suas “peculiaridades” em relação à forma como
educa seus filhos. A partir dai o filme é preenchido por diversos momentos
agressivos e agonizantes que demonstram o inferno familiar em que o restante
dos irmãos de Angeliki se encontra.
Um freak show que sabe
utilizar o vermelho vivo e pulsante do sangue para contrastar com a desolação e
desespero dos filhos. Avranas se lança sobre seus personagens de
forma bastante nítida e mantém suas lentes na altura dos filhos menores,
revelando uma pureza e beleza em constante ameaça. Porém sua grande obsessão se concentra na figura do pai e no seu uso da violência doméstica. O
personagem não oferece insights fascinantes ou monólogos interessantes, mas seu
comportamento consegue fornecer respostas em relação ao suicídio da menina. A
câmera o intimida, como maneira de exibir suas hipocrisias de maneira mais
nítida. Seus close-ups revelam uma figura abominável a quem o espectador
acompanha durante boa parte da narrativa.
Porém se Miss
Violence possui uma mensagem clara e direta, lhe falta gás para sua
narrativa se desenvolver e alcançar dimensões mais interessantes. Acaba por ser
uma história relativamente batida (semelhante ao outro filme Grego
contemporâneo, Dente Canino) e por vezes, carregadíssima em suas cenas
chocantes. Avranas mostra onde os corpos estão enterrados, e quem os enterrou
logo no começo, tornando a experiência prejudicada em longo prazo. Não há nada
além, é um filme duro e seco do começo ao fim. No momento em que eu pensei que
ele iria colocar o foco de atenção em outros lugares, o diretor permanece
enfatizando e enfatizando no já comentado e exemplificado.
Já havia dito sobre
esses problemas em outros filmes violentos desse ano (The Rover, Heli) e
reafirmo que não se tratam de filmes horrorosos. Entretanto apesar do vigor de
seus realizadores, eles acabam por caírem no lugar comum de cenas
violentas que se tornam muito mais descritivas do que narrativamente
importantes. A sensação que fiquei foi de um filme que apelou para empatia da
platéia por não ter mais o que comentar.
É admirável que um
filme como Miss Violence mire seu olhar em temas tão fortes para o
espectador. Suas discursões são pertinentes e bem vindas ao cinema contemporâneo. Ele é objetivo e sem falsas esperanças, porém acaba por cair diversas vezes na
trilha do sentimentalismo barato e na mesmice demonstrativa da violência
física.
Link IMDB: http://www.imdb.com/title/tt3078242/
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