segunda-feira, 9 de junho de 2014

O Lobo Atrás da Porta

Dance you fucker! Dance you fucker!

O filme inicia-se com imagens cotidianas do Rio de Janeiro. Em seguida, entra música em tons graves (Que me lembrou: https://www.youtube.com/watch?v=meU2gAU7Xss ) e barulho da rua, para logo depois, descobrimos que uma criança está desaparecida. Dois minutos de filme, O Lobo Atrás da Porta já havia me sugado completamente em sua atmosfera. Revisto (Já havia visto no festival Janela Internacional do Recife, de 2013), só confirmei que o suspense de Fernando Coimbra é um dos grandes filmes nacionais dos últimos anos.

Coimbra parte do desparecimento da menina para construir um suspense tenso, emotivo e por vezes, engraçado, sobre um triângulo amoroso. A tal menina é filha de Bernardo (Milhem Cortaz) e Sylvia (Fabíula Nascimento), conforme a investigação avança suspeita-se de Rosa (Leandra Leal, em ótima atuação). Rosa é um caso extraconjugal de Bernardo, que se torna amiga de Sylvia, com intuito de provocar o amante. Essa pulada de cerca é narrada primeiramente por Bernardo, e depois por Rosa.

Sendo um filme de “versões” da mesma história, Lobo não é um daqueles casos que busca confundir o espectador em meios a trezentos fatos de diversos pontos de vista. O filme se interessa bem mais por entender e procurar os motivos que culminaram no desaparecimento da menina.

O cinema nacional ultimamente tem flertado bastante com o suspense (vide os ótimos Som Ao Redor, Trabalhar Cansa e Quando Eu Era Vivo.) e Lobo se torna mais um desses. Esse Neo Noir é uma dança da morte: Cenas abruptas de violência doméstica, personagens instáveis e um mistério a ser resolvido. Coimbra se revela um diretor de mão cheia, com longos planos (Alguns estáticos, ou com pouca movimentação) e ótimas soluções de enquadramento, que passam uma sensação constante de tensão (Amigo meu comentou que ouviu a plateia toda ofegar aliviada quando o filme terminou).

O papel do som também ajuda a ressaltar o aspecto claustrofóbico. A trilha sonora pontua os momentos chaves do filme, sendo seu minimalismo bastante eficaz. Já na maior parte das cenas, o som ambiente é o grande destaque, alto e seco. O barulho parece cortar o filme com bastante ferocidade. Isso, misturando com a ausência de som extra diegético (fora do universo fílmico), torna o filme violento e tenso na medida certa.

A estética do filme também ganha ao mostrar as consequências das ações dos personagens. (Como na ótima cena de Rosa após sua “consulta” ao médico) Ao observar as longas, e silenciosas, reações dos personagens, o filme ganha camadas e mais camadas de interpretações de seus dramas (Similar ao filme Quatro Meses, Três semanas e Dois Dias, Cristian Mungiu). Filme sujo e desagradável, no melhor sentindo que existe, O Lobo Atrás da Porta não faz julgamentos morais, ele abre caminhos para o espectador chegar a suas conclusões. Sem medo de tocar em assuntos delicados, Coimbra adiciona uma dose peculiar de humor a narrativa.

 O filme parece brincar especificamente com a plateia brasileira, e seu caráter quase histérico em repulsa a histórias de adultério e de crimes hediondos. Até mesmo o delegado (Juliano Cazarré) comenta que no Brasil, população não perdoa quem maltrata criança e idoso. O humor está no desconforto de certas situações, que acabam tendo consequências graves e pouco engraçadas. Porém, ele nunca se destaca diante do suspense do filme.

 O filme já havia me causado uma ótima impressão da primeira vez. Já na segunda, tive a certeza de que ele irá permanecer comigo por bastante tempo. Brilhantemente fotografado e montado,O Lobo Atrás da Porta é um suspense de qualidade, dos mais criativos a aparecer nos últimos tempos, tanto no âmbito nacional, quanto internacional.

Link IMDB: http://www.imdb.com/title/tt2861532/
Música do título:

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