quarta-feira, 10 de setembro de 2014

The Thing

A barriga de um homem arranca os braços de outro fora. Há bastante medo físico em The Thing. Carpenter horroriza o espectador em sua reflexão de sangue, tecidos e ossos distorcidos do ser-humano. O grau de monstruosidade que o diretor injeta em seu filme se assemelha as formas deformadas e amedrontadas das pinturas de Goya, uma verdadeira visão do inferno. A imagem é tão gráfica, vibrante, tensa e provocadora ao retratar os corpos de seus personagens que não é de se surpreender sua fria recepção em 1982.
O minimalismo da música tema instaura expectativa e suspense, que surge na figura de um cão sendo perseguido por um helicóptero. Mais tarde a platéia descobre que se trata de um ser capaz de se transmutar em qualquer organismo, gerando pânico e desconfiança entre os personagens. Carpenter filma na altura do cão, conferindo-lhe poder e espaço na tela. Sua transformação é uma grande proeza para o gênero, não só pelos efeitos especiais orgânicos e espetaculares, como também pela prova do grande talento de seu diretor em assustar plateias e em corresponder suas expectativas com imagens amedrontadoras e inusitadas.

Porém seria um erro ler esse filme como sucessão uma de imagens vulgares de violência gráfica. Em vez disso, Carpenter prioriza a construção de uma atmosfera fria e até onírica da Antártica, para gradativamente sucumbi-la em um clima de paranoia que traz consigo a fotogenia impressionantemente surreal do monstro homônimo. A narrativa não se apressa em exibi-lo como um fantoche genérico igual a tantos outros do gênero, mas como uma força única e implacável que também se revela no extracampo sonoro de sons ásperos e estridentes. Sua origem não é apresentada, o espectador e os personagens entendem que o monstro possui dimensões e aparências imensuráveis. O próprio The Thing é carregado de tais dimensões, o cosmos mundial se disfarça em treze personagens acuados pela “coisa” metamórfica. Alegorias com a histeria do surgimento da AIDS e suas primeiras “soluções” de extrema direita (isolar os infectados) são bastante cabíveis ao filme. Pois a força de seu subtexto consiste no choque entre diferentes mentes, etnias e classes ameaçadas pela violência do desconhecido.


E que maneira seria mais apropriada de se terminar do que com a destruição física e mental dos envolvidos? A orquestração da violência diminui seu ritmo, porém ela permanece. A ambiguidade de seu final é discutível, porém sua força em impactar e fragilizar o espectador, não. 


      Morricone <33333333:

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