segunda-feira, 18 de agosto de 2014

A Visitante Francesa


Poderia está ocorrendo na sua cidade e no seu quintal. E ainda é bom o suficiente para ser exibido em um notebook ou em no visor de uma pequena filmadora. A Visitante Francesa é tão esteticamente simplista e entregue ao espectador que é como Sang-soo Hong despisse o filme de todo o processo de pós-produção, tornando-o uma espécie de documentário caseiro pessoal. É um chamado para o cinema, é expandi-lo para novas audiências, acostumadas com o vídeo, ao mesmo tempo em que é extremamente atrativo para cinéfilos e jovens cineastas.

Aspirante à cineasta escreve um roteiro com três histórias envolvendo uma turista francesa (Isabelle Huppert em tripla atuação) de passagem por uma nebulosa praia na Coreia do Sul. Em todas as narrativas, existem rostos e figuras em comum (o cineasta, o guardas costas, a vizinha, etc).

Cheia de zooms bruscos, cenários recorrentes, bastante comida e personagens cativantes, essa comédia é uma experiência e tanto. A Visitante Francesa lida com temáticas ordinárias e é propositalmente lapidado para parecer que não foi, e funciona! A câmera desengonçada e, aparentemente, sem rumo especifico logo se torna o olho de um espectador voyeur. O estranhamento da direção não é só facilmente absorvido, como ele se torna vital para que esse “documentário” pareça crível.

Somos fãs, munidos de uma handycam e perseguindo nossos ídolos e símbolos. E ao “aprisionarmos” Huppert em nossas lentes, um excitante e fresco cinema é criado. É sem preconceitos de olhares, entre a ficção e o documentário, é livre, acessível a diversas interpretações. A narrativa da Isabelle cineasta\apaixonada\divorciada em busca de um final feliz é a metalinguagem perfeita para o cinema se expressar e se encontrar.
Somado de bons coadjuvantes e de vários planos-sequência, A Visitante Francesa pode parecer sem um subtexto narrativo, mas suas repetições de temas acabam por fazer sentindo no contexto geral das três histórias, bem como o papel da  personagem-roteirista. É a busca pela paz espiritual, e como o cinema pode ajudar nisso, e a celebração pelos momentos simples da vida. E é impressionante como uma obra com cara de primeiro filme esconda uma grande maturidade cinematográfica. Provando que juventude nada tem haver com idade, Sang-soo Hong é um jovem de 53 anos com muito a se dizer.

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