quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Amantes Eternos

The city sun sets ver me

Mergulhados em diversos vícios e presos em um limbo terrestre, os personagens de Jim Jarmusch são estrangeiros ao que os rodeia, seus vampiros não são diferentes. Jarmusch os retrata como condenados ao tédio melancólico da eternidade, presos em um habitat medonho. Com boa trilha sonora, bons atores e ritmo alucinógeno, Amantes Eternos se tornou meu filme favorito do diretor.

Adam (Tom Hiddleston) é um vampiro depressivo, passando seu tempo recluso, compondo música e culpando os humanos (Zumbis, como são chamados pelos vampiros) por boa parte de seus problemas. Ele se reúne com sua companheira Eva (Tilda Swinton) de tempos em tempos, essa estabilidade pode ser ameaçada pela presença indesejada de Ava (Mia Wasikowska), irmã de Eva que possui diversas desavenças com o casal.

Passando-se longe dos cartões postais dos Estados Unidos, em uma Detroit noturna e gótica, Amantes Eternos é um filme que preenche muito bem seus tempos mortos, sendo quase sempre em ambientes fechados. Onde o tédio é pontuado por comentários melancólicos sobre o cansaço de uma vida secular. Sabiamente marcado por guitarras distorcidas, o filme transmite a bagunça espiritual em que o protagonista se encontra. Fazendo contraponto com o estilo de música oriental que marca a presença de Eva, evidenciando o caráter de êxtase em que a personagem se encontra. Jarmusch encontra beleza no estado de seus personagens, é um romântico acerca do papel da arte para se atingir o sublime. 

A contemplação do casal é bruscamente interrompida pela chegada da Ava. Mia Wasikowska não da sorte comigo, a histeria de sua personagem faz sentindo, mas é tão destoante e com poucos fins, que o personagem acaba sendo uma adição pouco expressiva. Seu papel narrativo é facilmente compreendido pelo espectador como uma vampira absorvida por vícios humanos, e só. Ao meu ver, não há grandes mistérios em torno de sua persona, sua inclusão pode ser vista como um ato de provocação aos valores defendidos pelo casal de protagonistas, ou até como uma maneira simplista que Jarmusch encontra de fazer o roteiro caminhar aceleradamente.

Conectados pelo ritual de beber sangue, esses vampiros tratam-se como excêntricos, as margens da sociedade, tendo a observado por centenas de décadas, se sentem superiores por não “fazerem guerras por petróleo\ água” e por terem deixado hábitos medievais de atacar os “Zumbis” para se alimentarem. Jarmusch cria seus personagens com um cinismo feroz, fazendo da história deles um conto sobre a degradação do mundo e como se prender a uma pessoa pode mantê-lo próximo aos seus ideais. A sacada do filme consiste em olhar para seus protagonistas com a mesma desconfiança em que eles olham para os zumbis. Ele é interessado no comportamento de seres que passaram centenas de anos perambulando por ai, e como esses podem nós dizer sobre o estado atual das coisas, tanto no ramo social quanto no existencial. O diretor também analisa a presença do passado no presente, o (já comentado) papel da arte como vicio a ser mantido para continuarmos vivos, e se seria possível que tais seres apresentem alguma melhoria comportamental após tantos anos de aprendizado (fazendo paralelo com o homem) 

Amantes Eternos é uma como uma doce canção de piano antes do bar fechar, o ultimo drink. É um filme guiado por sensações, encontrando seu público naqueles que participam do mundo através de suas janelas e que encontram conforto no frio da madrugada. Superou todas minhas expectativas, achei uma obra bem acabada, contemporânea e bastante divertida. Jim Jarmusch apresenta uma boa visão acerca dos condenados, que é fincada com os pés no passado, mas soando gritantemente moderna.


                Música do título:

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