segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Jodorowsky´s Dune

Jodorowsky´s Dune

Bem, acho que é pertinente começar dizendo que não gosto dos filmes de Jodorowsky. El Topo e Montanha Sagrada possuem simbolismos baratos e excessivamente carregados, acabam-se resumindo a: Referências e mais referências a eventos históricos, culturais, orientais, religiões esotéricas, catolicismo e aos cineastas favoritos do diretor. No final das contas, achei que ambos os filmes carecem de uma direção firme e pensada, e de uma edição mais bem trabalhada. Porém, a eloquência do diretor ao falar de Duna, seu projeto que nunca foi filmado, me levou a assistir o documentário sobre a produção do filme.

Jodorowsky´s Dune reúne o diretor e seus colaboradores (“Guerreiros espirituais” como o realizador os chama), mais críticos e fãs para comentarem sobre a produção do que supostamente seria “O filme mais importante da história do cinema”, palavras do Jodorowsky. O ímpeto com o qual o realizador fala de seu projeto, quase 40 anos após sua origem, é contagiante. É admirável que o diretor, que na época já havia passado da casa dos 40, consiga manter a jovialidade de um artista de vinte e poucos anos. “Mudar as jovens mentes de todo o mundo” ele refere-se aos seus objetivos, demonstrando uma Egotrip que só os anos 70 proporcionaram.

Porém, se a maioria das loucuras cinematográficas concentrava-se no diretor como única força criativa, Jodorowsky enfatiza a importância do coletivo para seu filme. E que coletivo! H.R Giger, Pink Floyd, Salvador Dali, Mick Jagger, Dan O´Bannon, Orson Welles, dentre tantos outros. O documentário vislumbra diversos storyboards e artes conceituais do filme, assim como entrevista seus responsáveis, traçando o painel sobre como o filme seria.

A força do documentário está justamente ai, porém ele consegue ir além de seu didatismo. Jodorowsky´s Dune é sobre o processo criativo da arte cinematográfica, como também sobre as dificuldades em realizá-la. Filmes como esse acabam tendo visões românticas de uma arte “sagrada”, mas é algo pertinente a se debater na era do digital e da globalização: Até que ponto a arte tem importância na mudança do Status Quo?

Diante do cancelamento de Duna, Hollywood usou extensivamente o material de pré-produção para a criação de vários filmes. Sim, é frustrante que a visão de Jodorowsky nunca tenha visto a luz do dia, e que projetos carregados de dedicação e carinho possam ser cancelados por pessoas que pouco, ou quase nada, entendam de cinema. Porém, no fim, permanece o sentimento que o fator humano foi maior que Hollywood.

Jodorowsky diz ao retirar algumas notas de dinheiro do bolso: “Dentro desses papeis não existe nada! Filmes tem coração, poder, ambições!” É uma forma bastante melosa e até infantil de colocar suas frustrações. Porém, me tocou profundamente escutar essas palavras, especialmente com tanta valorização das massas pela indústria robótica hollywoodiana. No fim, a visão de Jodorowsky é tão cativante ao espectador que seu grande triunfo foi alcançado, sua paixão e dedicação permanecem como uma aula a jovens cineastas e cinéfilos sobre o quão grande e espetacular é Jodorowsky´s Dune.

Link IMDB: http://www.imdb.com/title/tt1935156/?ref_=nv_sr_1

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